quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O Rádio e Eu


Hoje começo um curso de locução de rádio, pelo SENAC. Assim entendi que era necessário escrever sobre ele, um grande e fiel companheiro.

Minha primeira interação com o rádio data de junho de 1979 e aconteceu por conta do futebol. Meus pais foram ao Morumbi assistir ao segundo jogo da Final do Campeonato Paulista de 1978 (não, você não leu errado e nem eu me equivoquei nas datas. O Paulistão 78 começou em agosto de 1978 e terminou só em junho de 1979), entre Santos X São Paulo. Como eu fiquei em casa, acompanhei o jogo pelo rádio. Confesso que não me lembro de muita coisa deste dia. Lembro-me apenas do gol do Santos e da frustração de ouvir o São Paulo empatar o jogo no último lance do jogo, provocando uma terceira partida.

Depois vem um hiato em minhas lembranças e elas reaparecem a partir de 1983. Desde então, o rádio e eu nos tornamos amigos inseparáveis. Ainda ligado tão somente pelo futebol, especialmente porque àquela época jogos transmitidos pela TV eram raros. Clássicos, então, só em final de campeonato e no segundo jogo.

Assim, tive o privilégio de ouvir na rádio Globo o Osmar Santos, conhecido como o Pai da Matéria, tamanho seu talento e capacidade de criar bordões, como "Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha" ou  "Tiro, liro li, tiro, liro lá e que gol". As expressões "Capricha garotinho","Não está mais comigo" ou os apelidos de Tamanduá Bandeira, para Serginho Chulapa e O Animal, para Edmundo.  

Outro gênio da narração que marcou minha infância/adolescência foi José Silvério, ainda na rádio Jovem Pan, chamado de O Pai do Gol, por Milton Neves. Aliás, outro que foi meu parceiro de longas jornadas, especialmente aos domingos. Ah, quanta história do futebol eu sei por conta deste jornalista. Ele foi um professor. Aquele intervalo do jogo entre Santos X Fluminense, de 1995, no Pacaembu, é inesquecível.

A partir de 1987 comecei a ouvir música por vontade própria e não mais por osmose, por influência dos meus tios. Minha primeira paixão foi a Patrícia, que deixara O Trem da Alegria e lançara um disco solo. Sua canção era "Festa do Amor", tema da novela Bambolê. Depois comecei a ouvir Titãs e Os Paralamas do Sucesso, mais intensamente, além das outras bandas do rock brasileiro da época.

Se o futebol era pelas ondas da AM, na música a sintonia era a FM e passei rapidamente pela Joven Pan, depois Transamérica, até chegar a 89 FM, A Rádio Rock. Nessa época, minha mãe havia ganho um rádio da Sanyo, como presente de aniversário, mas quem vivia com o aparelho era eu.

E foi ouvindo rádio no verão de 1988 que, enquanto conversava com meu amigo Dimitri, começou a tocar "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana. Imediatamente ele me disse “presta atenção nessa música", e eu prestei, e prestei, e prestei por longos 9 minutos. Ao final desta canção, alguma coisa tinha acontecido comigo e eu não estava entendendo direito. Minha reação foi indagá-lo “Dimitri, cadê o seu disco?”, ele já tinha os três álbuns da Legião. Eu precisava entender aquele João de Santo Cristo, precisava conhecer aquela Maria Lúcia. Ai, sem qualquer exagero, eu nunca mais fui o mesmo.

O rádio continuou ao meu lado e alguns programas eram especiais. Eu gostava muito do 89 Live in Concert, 89 Decibéis, Novas Tendências, 89 Rádio Laser (todos da 89 FM), além do Chá das 5, na rádio Transamérica, onde as bandas nacionais tocavam ao vivo nos estúdios da rádio. Outro programa que ouvi demais foi o No Mundo da Bola, especialmente entre 1995 e 1998, apresentado por Flávio Prado, na Jovem Pan. Ele era especial, pois unia duas grandes paixões, o futebol e a música. Naturalmente, ele abrangia o futebol em praticamente todo o mundo, e em cada canto, um jornalista falava sobre o futebol local e trazia uma música da região. Era demais.  

Também foi o rádio quem esteve ao meu lado quando sofri AVC, em maio de 1994,  ficando internado por 21 dias. Foi ele o meu parceiro durante o governo FHC, no meio de uma terrível recessão e sem empregos. Sem muitas perspectivas eu tive que me virar fazendo jogo do bicho. Pois é, e fiz isso por uns quatro anos. E o rádio estava lá, firme ao meu lado.

E como não lembrar, e ter o desejo ainda mais aguçado em conhecer Paris, quando me vem a memória o saudoso Reali Júnior dizendo, logo pela manhã, "Aqui, Jovem Pan Paris, às margens do Sena, junto a Maison de La Radio, os termômetros marcam 10º graus. Tempo medíocre...”

Enfim, memórias não me faltam sobre o rádio. Poderia escrever por horas. Mesmo hoje com toda a tecnologia e velocidade na informação o rádio é fundamental. O rádio ainda é ágil e dinâmico e continua indispensável, ao menos pra mim.

Pra ouvir no Spotify:
https://open.spotify.com/user/22hkib5bes45l4jgjkjiwnxqa/playlist/2EfmukMahyEW8qteiGtLBX?si=djCM0vtXSVKjI5JLraEmUA

7 comentários:

  1. Cacetada! Que texto legal. É de arrepiar!

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  2. Silvano ... sempre arrasando nos textos !
    Parabéns amigão !

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  3. Tão legal quando temos várias paixões e melhor ainda quando conseguimos relaciona-las, pelo visto você o faz com maestria. Posso sentir a emoção que te toca quando escreve! Parabéns!

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  4. Uauuu Lu.
    Muito obrigado pelo carinho.
    Grande beijo!

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