Hoje começo um curso de locução de rádio, pelo SENAC. Assim entendi que
era necessário escrever sobre ele, um grande e fiel companheiro.
Minha primeira interação com o
rádio data de junho de 1979 e aconteceu por conta do futebol. Meus pais foram
ao Morumbi assistir ao segundo jogo da Final do Campeonato Paulista de 1978 (não,
você não leu errado e nem eu me equivoquei nas datas. O Paulistão 78 começou em
agosto de 1978 e terminou só em junho de 1979), entre Santos X São Paulo. Como
eu fiquei em casa, acompanhei o jogo pelo rádio. Confesso que não me lembro de
muita coisa deste dia. Lembro-me apenas do gol do Santos e da frustração de
ouvir o São Paulo empatar o jogo no último lance do jogo, provocando uma
terceira partida.
Depois vem um hiato em minhas
lembranças e elas reaparecem a partir de 1983. Desde então, o rádio e eu nos
tornamos amigos inseparáveis. Ainda ligado tão somente pelo futebol, especialmente
porque àquela época jogos transmitidos pela TV eram raros. Clássicos, então, só
em final de campeonato e no segundo jogo.
Assim, tive o privilégio de ouvir
na rádio Globo o Osmar Santos, conhecido como o Pai da Matéria, tamanho seu
talento e capacidade de criar bordões, como "Ripa na chulipa e pimba
na gorduchinha" ou "Tiro, liro
li, tiro, liro lá e que gol". As expressões "Capricha garotinho","Não
está mais comigo" ou os apelidos de Tamanduá Bandeira, para Serginho
Chulapa e O Animal, para Edmundo.
Outro gênio da narração que marcou
minha infância/adolescência foi José Silvério, ainda na rádio Jovem Pan,
chamado de O Pai do Gol, por Milton Neves. Aliás, outro que foi meu parceiro de
longas jornadas, especialmente aos domingos. Ah, quanta história do futebol eu
sei por conta deste jornalista. Ele foi um professor. Aquele intervalo do jogo
entre Santos X Fluminense, de 1995, no Pacaembu, é inesquecível.
A partir de 1987 comecei a ouvir
música por vontade própria e não mais por osmose, por influência dos meus tios.
Minha primeira paixão foi a Patrícia, que deixara O Trem da Alegria e lançara
um disco solo. Sua canção era "Festa do Amor", tema da novela Bambolê.
Depois comecei a ouvir Titãs e Os Paralamas do Sucesso, mais intensamente, além
das outras bandas do rock brasileiro da época.
Se o futebol era pelas ondas da
AM, na música a sintonia era a FM e passei rapidamente pela Joven Pan, depois
Transamérica, até chegar a 89 FM, A Rádio Rock. Nessa época, minha mãe havia
ganho um rádio da Sanyo, como presente de aniversário, mas quem vivia com o
aparelho era eu.
E foi ouvindo rádio no verão de
1988 que, enquanto conversava com meu amigo Dimitri, começou a tocar "Faroeste
Caboclo", da Legião Urbana. Imediatamente ele me disse “presta atenção
nessa música", e eu prestei, e prestei, e prestei por longos 9 minutos. Ao
final desta canção, alguma coisa tinha acontecido comigo e eu não estava entendendo direito.
Minha reação foi indagá-lo “Dimitri, cadê o seu disco?”, ele já tinha os três álbuns
da Legião. Eu precisava entender aquele João de Santo Cristo, precisava
conhecer aquela Maria Lúcia. Ai, sem qualquer exagero, eu nunca mais fui o
mesmo.
O rádio continuou ao meu lado e
alguns programas eram especiais. Eu gostava muito do 89 Live in Concert, 89
Decibéis, Novas Tendências, 89 Rádio Laser (todos da 89 FM), além do Chá das 5,
na rádio Transamérica, onde as bandas nacionais tocavam ao vivo nos estúdios da
rádio. Outro programa que ouvi demais foi o No Mundo da Bola, especialmente entre 1995 e 1998, apresentado por Flávio
Prado, na Jovem Pan. Ele era especial, pois unia duas grandes paixões, o futebol
e a música. Naturalmente, ele abrangia o futebol em praticamente todo o mundo,
e em cada canto, um jornalista falava sobre o futebol local e trazia uma música
da região. Era demais.
Também foi o rádio quem esteve ao
meu lado quando sofri AVC, em maio de 1994, ficando internado por 21 dias. Foi ele o meu parceiro durante o governo FHC, no meio de
uma terrível recessão e sem empregos. Sem muitas perspectivas eu tive que me
virar fazendo jogo do bicho. Pois é, e fiz isso por uns quatro anos. E o rádio estava lá, firme ao meu lado.
E como não lembrar, e ter o
desejo ainda mais aguçado em conhecer Paris, quando me vem a memória o saudoso Reali
Júnior dizendo, logo pela manhã, "Aqui, Jovem Pan Paris, às margens do
Sena, junto a Maison de La Radio, os termômetros marcam 10º graus. Tempo
medíocre...”
Enfim, memórias não me faltam
sobre o rádio. Poderia escrever por horas. Mesmo hoje com toda a tecnologia e
velocidade na informação o rádio é fundamental. O rádio ainda é ágil e dinâmico
e continua indispensável, ao menos pra mim.
https://open.spotify.com/user/22hkib5bes45l4jgjkjiwnxqa/playlist/2EfmukMahyEW8qteiGtLBX?si=djCM0vtXSVKjI5JLraEmUA
Cacetada! Que texto legal. É de arrepiar!
ResponderExcluirMuito obrigado Bosnic. Abração.
ExcluirSilvano ... sempre arrasando nos textos !
ResponderExcluirParabéns amigão !
Show 👏👏👏
ResponderExcluirVlw... muito obrigado.
ExcluirTão legal quando temos várias paixões e melhor ainda quando conseguimos relaciona-las, pelo visto você o faz com maestria. Posso sentir a emoção que te toca quando escreve! Parabéns!
ResponderExcluirUauuu Lu.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho.
Grande beijo!