sábado, 15 de fevereiro de 2020

O dia de hoje na história do Rock


Dia 15 de fevereiro

1948 – Um dos músicos mais influentes, sobre tudo nas bandas de rock inglesa, o bluesman Muddy Waters lançava seu primeiro disco solo, I Can't be Satisfied.

Waters já tivera dois de seus registros gravados. O primeiro foi em 1941 quando Alan Lomax, um estudioso do folclore americano, viajava pelo sul dos EUA à caça de informações sobre Robert Johnson, outra lenda do blues. Lomax desenvolvia um estudo sobre a música negra do país e suas gravações tinham como destino a Biblioteca do Congresso, mas esta gravação de Waters não chegou a ser editada (esta passagem foi reproduzida no filme Cadillac Records, de Darnell Martin, de 2008). A segunda, ocorreu no ano seguinte, com o próprio Lomax, porém Waters estava acompanhado de outros músicos, no álbum Down on Stovall´s Plantation.

1955 – Art Rupe, proprietário do selo Specialty Records, recebeu uma demo-tape de Little Richards. Tendo gostado do que ouvira, convocou o produtor  Robert   Blackwell para trabalhar o cantor.

Depois de muitas gravações que não agradaram Blackwell, num momento de ira de Richards que começou a socar o piano, saiu a canção “Tutti Frutti”, que já era uma ideia do artista, e que depois de algumas sugestões do produtor, sofreu algumas modificações na letra para ter mais apelo comercial.

1974 – O Deep Purple lançou o álbum Burn, o primeiro com o vocalista David Coverdale e o baixista Glenn Hughes. O disco foi gravado em novembro do ano anterior, em Montreaux.

O novo baixista, inclusive, foi co-autor de algumas canções, mas não lhe foram dados os créditos. Somente na edição de 30º aniversário, fez-se justiça à Hughes. 

1977 – Sid Vicius substitui Glen Matlock, nos Sex Pistols. Glen, reconhecidamente era o melhor músico do grupo, além de principal compositor das músicas em parceria com Johnny Rotten, que escrevia as letras. Há duas vertentes sobre sua saída. A primeira conta que por ser “mais sofisticado” e vindo de uma família classe-média, não se encaixava muito nos padrões do Punk. Já a segunda, conta que Rotten queria mesmo era seu amigo Sid, mesmo não sendo exatamente um bom músico, mas o maior expoente do comportamento do movimento.

1985 – A Legião Urbana lançava, enfim, o seu auto-intitulado álbum de estreia. Certamente você já leu e/ou ouviu que o referido lançamento ocorreu em 1º de janeiro, inclusive eu já publiquei essa data, ou no máximo no dia 2. Acontece que em 2015 o guitarrista Dado Villa-Lobos lançou sua biografia, Memórias de Um Legionário, e na página 75 do livro ele diz “Conforme escrevi no capítulo anterior, o lançamento de nosso disco de estreia estava previsto para novembro de 1984. Porém, como todas as atenções da mídia estavam voltadas para o Rock in Rio, que seria realizado em janeiro de 1985, a gravadora alterou o seu planejamento inicial e lançou o nosso LP somente em 15 de fevereiro”. Do ponto de vista estratégico, faz todo sentido não lançá-lo em janeiro. Como estas questões de data são sempre controversas decidi fazer uma pesquisa em arquivos de jornais da época. Não foi possível encontrar com precisão a data do dia 15 de fevereiro. No entanto, em duas colunas do Jornal do Brasil fica claro que o disco saiu mesmo em fevereiro. A primeira no dia 16 de fevereiro, ed. 312, do jornalista Luiz Antonio Mello, enquanto Jamari França resenhou o álbum na ed. 322, do dia 28 de fevereiro. Sendo assim, considero como o mais plausível, creditar a data fornecida pelo próprio Dado. Afinal, como ele mesmo disse a certa altura do livro, as datas precisas que ele fornece são anotações de sua mulher Fernanda, que também empresariou a banda até o fim da turnê do Dois.

Isto posto, é preciso celebrar os 35 anos de Legião Urbana, um disco que já era diferente das cores pintadas pelos artistas nacionais daquele Rock in Rio, que traziam músicas mais leves, com batatas fritas, rolês de moto, coisas mais corriqueiras, mesmo. Não por acaso, elas eram apelidadas de Rock de Bermuda. E aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, até porque gosto muito destas bandas, mas apenas constatando a diferença de conceito.

Logo de cara duas coisas saltam aos ouvidos em Legião Urbana; primeiro a voz de Renato Russo (a melhor do rock nacional), e depois as letras (Renato tinha uma capacidade ímpar em retratar tanto as injustiças sociais quanto as relações interpessoais). Lançar um disco com uma capa em preto e branco, foto dos integrantes sombreadas e nuances em relevo já diz muito sobre seu conteúdo. O disco era pós-punk, no melhor estilo das bandas inglesas, algumas em voga à época. Nada mais natural para quem tinham as mesmas referências. Não por acaso, estas referências causaram inúmeros desentendimentos durante a produção do disco, a ponto de dois produtores desistirem do trabalho, enquanto que um terceiro, José Emilio Rondeau, por muito pouco não abandonou o barco também.

O disco abre com “Será” e ali Renato chama a atenção para seus versos como por exemplo “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você” que tanto servem para questões de um país sob ditadura, quanto para a relação com outra pessoa. “Serão noites inteiras, talvez por medo da escuridão” e por aí vai. "Ah se eu soubesse lhe dizer o que fazer pra todo mundo ficar junto, todo mundo já estava há muito tempo", de “Petróleo do Futuro” também segue por essa linha.

A violência urbana e a estupidez de uma guerra presentes em “Baader-Meinhof Blues” e na marcial “Soldados”, respectivamente. Enquanto os fascistas, que estão de volta, já estavam à solta em “A Dança”, com uma letra sexista e que antecipava a inversão de papéis atual, em que a vítima foi quem provocou tal situação.

“Geração Coca-Cola” é a canção mais porrada/política deste primeiro disco, ainda da época em que Renato Russo era da banda punk Aborto Elétrico. Assim como “O Reggae” que fala da falta de liberdade e de “Aprender a roubar pra vencer”, mas calma lá! Há também o amor, como na  bela “Ainda é Cedo”, as energéticas “Teorema” e “Perdidos no Espaço” e a suavidade de “Por Enquanto”.

Tudo isso muito bem costurado por uma parte musical robusta. Naturalmente o disco não trazia o som mais tosco da famosa fita-demo que chegou às mãos da rádio Fluminense FM. A essência, no entanto, continuava ali. Uma bateria marcante e ritmada e um baixo pungente. Guitarras sem solos, mas em ritmo harmonioso, costurando as canções. Renato Russo ainda nos brinda com belos arranjos de violões, posteriormente tão característicos ao som da banda, e nuances de teclados. E o que falar da voz? Ah, a voz...  A voz era o casamento perfeito com a poesia que ele escrevia.

Trinta anos mais tarde, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá relançaram este trabalho com alguns out-takes, sobras de estúdio e versões da famosa fita-demo, num disco extra. Lamentavelmente, a canção inédita “1977” ficou de fora deste lançamento por questões judiciais. Para promoverem o relançamento, Dado & Bonfá excursionaram pelo Brasil tocando o disco na íntegra, em quase 100 apresentações.

Legião Urbana é até hoje uma das melhores estreias em disco de Rock no Brasil.  


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