Dia 15 de fevereiro
1948 – Um dos músicos mais influentes, sobre tudo nas bandas de
rock inglesa, o bluesman Muddy Waters lançava seu primeiro disco solo, I Can't be Satisfied.
Waters já tivera dois de seus registros
gravados. O primeiro foi em 1941 quando Alan Lomax, um estudioso do folclore
americano, viajava pelo sul dos EUA à caça de informações sobre Robert Johnson,
outra lenda do blues. Lomax desenvolvia um estudo sobre a música negra do país
e suas gravações tinham como destino a Biblioteca
do Congresso, mas esta gravação de Waters não chegou a ser editada (esta passagem foi reproduzida no filme Cadillac Records, de Darnell Martin, de 2008). A
segunda, ocorreu no ano seguinte, com o próprio Lomax, porém Waters estava acompanhado de
outros músicos, no álbum Down on
Stovall´s Plantation.
1955 – Art Rupe, proprietário do selo Specialty Records, recebeu
uma demo-tape de Little Richards.
Tendo gostado do que ouvira, convocou o produtor Robert
Blackwell para trabalhar o cantor.
Depois de muitas gravações que
não agradaram Blackwell, num momento de ira de Richards que começou a socar o
piano, saiu a canção “Tutti Frutti”, que já era uma ideia do artista, e que
depois de algumas sugestões do produtor, sofreu algumas modificações na letra
para ter mais apelo comercial.
1974 – O Deep Purple lançou o álbum Burn, o primeiro com o vocalista David Coverdale e o baixista Glenn
Hughes. O disco foi gravado em novembro do ano anterior, em Montreaux.
O novo baixista, inclusive, foi
co-autor de algumas canções, mas não lhe foram dados os créditos. Somente na
edição de 30º aniversário, fez-se justiça à Hughes.
1977 – Sid Vicius substitui Glen Matlock, nos Sex Pistols. Glen,
reconhecidamente era o melhor músico do grupo, além de principal compositor das
músicas em parceria com Johnny Rotten, que escrevia as letras. Há duas
vertentes sobre sua saída. A primeira conta que por ser “mais sofisticado” e
vindo de uma família classe-média, não se encaixava muito nos padrões do Punk.
Já a segunda, conta que Rotten queria mesmo era seu amigo Sid, mesmo não sendo
exatamente um bom músico, mas o maior expoente do comportamento do movimento.
1985 – A Legião Urbana lançava, enfim, o
seu auto-intitulado álbum de estreia. Certamente você já leu e/ou ouviu que o
referido lançamento ocorreu em 1º de janeiro, inclusive eu já publiquei essa
data, ou no máximo no dia 2. Acontece que em 2015 o guitarrista Dado
Villa-Lobos lançou sua biografia, Memórias
de Um Legionário, e na página 75 do livro ele diz “Conforme escrevi no capítulo anterior, o lançamento de nosso disco de
estreia estava previsto para novembro de 1984. Porém, como todas as atenções da
mídia estavam voltadas para o Rock in Rio, que seria realizado em janeiro de
1985, a gravadora alterou o seu planejamento inicial e lançou o nosso LP
somente em 15 de fevereiro”. Do ponto de vista estratégico, faz todo
sentido não lançá-lo em janeiro. Como estas questões de data são sempre
controversas decidi fazer uma pesquisa em arquivos de jornais da época. Não foi
possível encontrar com precisão a data do dia 15 de fevereiro. No entanto, em duas
colunas do Jornal do Brasil fica claro que o disco saiu mesmo em fevereiro. A
primeira no dia 16 de fevereiro, ed. 312, do
jornalista Luiz Antonio Mello, enquanto Jamari França resenhou o álbum na ed. 322, do dia
28 de fevereiro. Sendo assim, considero como o mais plausível, creditar a data
fornecida pelo próprio Dado. Afinal, como ele mesmo disse a certa altura do
livro, as datas precisas que ele fornece são anotações de sua mulher Fernanda,
que também empresariou a banda até o fim da turnê do Dois.
Isto posto, é preciso celebrar os
35 anos de Legião Urbana, um disco que
já era diferente das cores pintadas pelos artistas nacionais daquele Rock in Rio, que traziam músicas mais leves,
com batatas fritas, rolês de moto, coisas mais corriqueiras, mesmo. Não por
acaso, elas eram apelidadas de Rock de Bermuda.
E aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, até porque gosto muito
destas bandas, mas apenas constatando a diferença de conceito.
Logo de cara duas coisas saltam
aos ouvidos em Legião Urbana;
primeiro a voz de Renato Russo (a melhor do rock nacional), e depois as letras
(Renato tinha uma capacidade ímpar em retratar tanto as injustiças sociais
quanto as relações interpessoais). Lançar um disco com uma capa em preto e branco,
foto dos integrantes sombreadas e nuances em relevo já diz muito sobre seu
conteúdo. O disco era pós-punk, no melhor estilo das bandas inglesas, algumas
em voga à época. Nada mais natural para quem tinham as mesmas referências. Não
por acaso, estas referências causaram inúmeros desentendimentos durante
a produção do disco, a ponto de dois produtores desistirem do trabalho,
enquanto que um terceiro, José Emilio Rondeau, por muito pouco não abandonou o
barco também.
O disco abre com “Será” e ali
Renato chama a atenção para seus versos como por exemplo “Tire suas mãos de
mim, eu não pertenço a você” que tanto servem para questões de um país sob
ditadura, quanto para a relação com outra pessoa. “Serão noites inteiras, talvez
por medo da escuridão” e por aí vai. "Ah se eu soubesse lhe dizer o que
fazer pra todo mundo ficar junto, todo mundo já estava há muito tempo", de
“Petróleo do Futuro” também segue por essa linha.
A violência urbana e a estupidez
de uma guerra presentes em “Baader-Meinhof Blues” e na marcial “Soldados”,
respectivamente. Enquanto os fascistas, que estão de volta, já estavam à solta
em “A Dança”, com uma letra sexista e que antecipava a inversão de papéis atual,
em que a vítima foi quem provocou tal situação.
“Geração Coca-Cola” é a canção
mais porrada/política deste primeiro disco, ainda da época em que Renato Russo era
da banda punk Aborto Elétrico. Assim
como “O Reggae” que fala da falta de liberdade e de “Aprender a roubar pra
vencer”, mas calma lá! Há também o amor, como na bela “Ainda é Cedo”, as energéticas “Teorema”
e “Perdidos no Espaço” e a suavidade de “Por Enquanto”.
Tudo isso muito bem costurado por
uma parte musical robusta. Naturalmente o disco não trazia o som mais tosco da
famosa fita-demo que chegou às mãos
da rádio Fluminense FM. A essência, no entanto, continuava ali. Uma bateria
marcante e ritmada e um baixo pungente. Guitarras
sem solos, mas em ritmo harmonioso, costurando as canções. Renato Russo ainda
nos brinda com belos arranjos de violões, posteriormente tão característicos ao
som da banda, e nuances de teclados. E o que falar da voz? Ah, a voz... A voz era o casamento perfeito com a poesia
que ele escrevia.
Trinta anos mais tarde, Dado
Villa-Lobos e Marcelo Bonfá relançaram este trabalho com alguns out-takes, sobras de estúdio e versões
da famosa fita-demo, num disco extra.
Lamentavelmente, a canção inédita “1977” ficou de fora deste lançamento por
questões judiciais. Para promoverem o relançamento, Dado & Bonfá
excursionaram pelo Brasil tocando o disco na íntegra, em quase 100
apresentações.
Legião Urbana é até hoje uma das melhores estreias em disco de Rock
no Brasil.
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