Dia 11 de janeiro
1985 - O rock sempre
existiu no Brasil, tanto que ele é, por assim dizer, contemporâneo de seus criadores americanos, uma vez que os irmãos Campelo,
Toni e Celly, já faziam sucesso por aqui ao final da década de 1950. Antes deles já havia o
registro de Nora Ney, uma interprete do chamado samba-canção, numa versão de
Rock Around The Clock, e mais Betinho e Seu Conjunto.
Nos anos 1960 surgiu a Jovem Guarda, especialmente
quando Roberto e Erasmo começaram a gravar músicas autorais, ao invés de meras versões.
Também surgiram Os Mutantes, a Tropicália e ainda o primeiro disco de Raul seixas, ainda como
Raulzito e Os Panteras (1968). A partir dos anos 1970 vêm o movimento progressivo, o impressionante
Secos & Molhados, Rita Lee fora dos Mutantes e Raul Seixas torna-se artista solo.
Mas
foi com a chegada dos anos 1980, quando havia uma urgência por retomar a
democracia, uma urgência pela liberdade, por criar uma identidade e
muita gente jovem produzindo arte, sobretudo música, e especialmente o Rock. Uma galera
antenada e extremamente politizada. Muito embora houvesse forte movimentação pelas capitais
à fora, o Rio de Janeiro foi o estopim. Aí, colaboraram decisivamente, a Rádio Fluminense FM (A
Maldita, como também era conhecida) e o Circo Voador (palco mítico e fundamental
neste processo), primeiro no Arpoador e depois no coração da boemia carioca, a Lapa.
Só
a partir daí alguém podia ousar colocar o Brasil na rota dos artistas
internacionais. Claro que foi preciso muita coragem, muita ousadia e doses
cavalares de loucura. O empresário Roberto Medina resolveu ser este louco. Inegavelmente o peso
das atrações internacionais desta primeira edição do festival foi fundamental para seu
glamour e sucesso, mas a base para realizá-lo, indiscutivelmente, era esta nova cena musical no
Brasil com Blitz, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Kid Abelha & Os Abóboras
Selvagens e Lulu Santos. A partir do sucesso destes artistas ficou claro para gravadoras, rádios e
promotores de espetáculos que havia uma cena forte no Brasil. Era juntar a fome com a vontade
de comer, pois ao mesmo tempo que muita gente estava fazendo música de qualidade, havia
um público procurando coisas novas. Nesse processo o Rock in Rio impulsionou o mercado. Provou que rock no
Brasil era viável.
Em 11 de janeiro de 1985
Ney Matogrosso subiu ao palco principal da cidade do Rock, ainda sob a luz do dia, para a abertura do maior festival de
música do Brasil, o Rock in Rio. Se hoje você está acostumado a ver qualquer turnê de artista
badalado passar pelo Brasil, saiba que boa parte disso, pra não dizer tudo, se deve a este
megaevento. Até então, poucos artistas se arriscavam a tocar em
solo tupiniquim, ou mesmo na América do Sul. Tínhamos a fama de maus pagadores e não cumpridores de contratos. Em 1981, veio o Queen para tocar no Maracanã e no
Morumbi, mas acabou tocando somente em São Paulo. Van
Halen desembarcou também em São Paulo, além do Rio de Janeiro e Porto Alegre. Em 1983 foi a vez do Kiss se apresentar
no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. E uma lenda, graças a mesma ousadia de Roberto
Medina, Frank Sinatra cantou no Maracanã, ainda em 1980.
Naquele
verão de 1985, tudo era novidade, tanto para quem assistia quanto para quem tocava, para os técnicos de som, para os roadies, enfim, para todos os
envolvidos. Mesmo às atrações estrangeiras já acostumadas com grandes arenas, não sabiam o que esperar do
público brasileiro, até então, uma incógnita. Whitesnake foi a primeira atração
estrangeira a experimentar a nova, e aprovada, plateia, seguidos pelo Iron Maiden. Encerrando a noite,
o Queen deu o ar de sua graça, com quatro anos de atraso para o público carioca. Ninguém
mais duvidava que o público brasileiro adorava o rock´n´roll. Com grande apelo e barulho, as estrelas internacionais
foram Queen, Iron Maiden, AC-DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart, Yes, B-52´s, entre outros, o
Brasil entrava definitivamente na rota das grandes turnês mundiais.
A
despeito do natural privilégio aos astros internacionais, desde camarim até questões técnicas que, naturalmente, só
eles dominavam e entendiam aquela parafernália toda, os brasileiros saíram-se muito bem,
fora um ou outro show. Os Paralamas do sucesso causaram o maior impacto já que, sem cenário e
com apenas aqueles três caras naquele palco gigantesco, o público se rendeu ao seu som em
ambas as apresentações. A Blitz, com toda sua teatralidade, tinha o público em suas mãos.
Artistas que se apresentaram por duas noites puderam se recuperar de eventuais deslizes da primeira
experiência, casos de Kid Abelha e Lulu Santos. Outra apresentação marcante foi a do Barão
Vermelho justo no dia em que Tancredo Neves era eleito, por um colegiado indireto, o novo
presidente do Brasil.
Quase um milhão e meio de pessoas acompanharam in loco os 10 dias do festival com entusiasmo e paixão. Foi também na Cidade do Rock que o
Queen realizou, o que muitos consideram, um dos maiores shows de música de todos os
tempos.
1971 – Janis Joplim lança seu
quarto, e último, disco de estúdio, Pearl. O álbum alcançou o topo das paradas
da Billboard por nove semanas.
1981 – O Aborto Elétrico faz sua
primeira apresentação ao vivo, no bar Só Cana, em Brasília, com a clássica formação: André
Pretorius (guitarra); Renato Russo (baixo) e Felipe Lemos (bateria). As canções
apresentadas ainda eram instrumentais. Reza a lenda que Pretorius cortou os
dedos nas cordas da guitarra e continuou tocando o instrumento que, branco, ficou
vermelho.
Para ouvir playlist em Spotify
https://open.spotify.com/user/22hkib5bes45l4jgjkjiwnxqa/playlist/0gEgMRUBLlfWHGYRBWHqou?si=LRHAaj7cRM-g3wP2k5nc6A
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