Dia 31 de Julho
1958 – Nasce
em Minnesota, EUA, Willian Thomas Berry, o baterista Bill Berry do R.E.M. Antes
da consagrada banda Bill já havia tentado outros grupos ao lado do amigo, e
baixista do R.E.M, Mike Mills.
O
R.E.M se formou em 1980 na cena independente da Geórgia. Além da bateria Berry
também colaborou compondo conhecidas canções do grupo, como “Perfect Circle”, “Driver 8” , “Man On The
Moon”, “Everybody Hurts”, “Can´t Get There From Here”...
Em
1995, na Suíça, Berry sofreu um aneurisma cerebral durante uma apresentação do
grupo. Posteriormente, recuperou-se e retornou as atividades normalmente. Porém
em 1997, decidiu que era o momento de parar e deixou a banda para se dedicar a
agricultura.
Berry
gravou os 10 primeiros álbuns de estúdio do R.E.M, ao lado de Mills, Michael
Stipe e Peter Buck.
1986 - Lançado na última semana de julho, em 1986, Dois foi o álbum da afirmação da
Legião Urbana.
Se no primeiro álbum o material já estava pronto, para o segundo disco não havia nada. Mesmo assim, o projeto era ambicioso. Especialmente depois que o Renato, ao retornar de um refúgio em Brasília, descobrir que Dado, Billy e Bonfá haviam trabalhado incessantemente em estúdio durante este mesmo período. Com material de sobra, a vontade era não só lançar um segundo disco, mas sim lançar um álbum duplo!
A ideia já tinha sido batizada de Mitologia & Intuição, pois Renato sempre fora um sujeito ambicioso. Naturalmente, a gravadora vetou, “já que iria custar o dobro do preço”. Na concepção da banda entrariam canções mais experimentais criadas na chamada pré-produção, como, por exemplo, a instrumental “O Grande Inverno na Rússia” e mais algumas relíquias que Renato resgataria da época de Trovador Solitário como “Eu Sei” e “Faroeste Caboclo”. Outra música que faria parte do álbum é, acreditem, “O Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, mas baseada na versão cantada por Clara Nunes. Já gravada pela banda, ela teve que ser abortada a partir do momento que o disco duplo não vingou.
Como toda multinacional, o que preocupava o pessoal da gravadora EMI-Odeon era que o grupo ao menos repetisse o sucesso do trabalho anterior, algo em torno de 80 mil cópias vendidas, cobrindo todos os custos de produção e ainda gerando lucros. Então, a EMI queria que a fórmula do primeiro disco fosse repetida.
Aí então houve uma pequena queda de braço. Se já não podiam lançar um álbum duplo, repetir a fórmula do anterior estava totalmente fora de cogitação. Ao menos queriam liberdade de criação e fazer o disco do jeito que queriam. Se a banda não via problemas em começar o disco com uma canção chamada “Daniel na Cova dos Leões”, a EMI questionou “Abrir o disco com uma música de igreja?” A Legião peitou os executivos e fez o disco assim mesmo. Ao descobrirem que a letra tratava de sexo, então...
Bem, contextualizado todo o cenário que envolveu a produção e gravação deste segundo disco, vamos à obra, propriamente dita.
Neste álbum, as guitarras deram lugar aos violões. Nuances Folk e mais intimistas substituíram a porrada do primeiro. Antes de ouvirmos a já citada “Daniel na Cova dos Leões”, surge uma vinheta com um trecho de “A Internacional Comunista” e “Será”, enquanto se percorre o dial do rádio, abrindo o disco. “Daniel...”, foi composta ainda durante os ensaios da primeira turnê, quando o Billy fez uma linha de baixo inspirada. Para manter o nível, Renato apresentava uma pena ainda mais afiada retratando sexo à sua maneira. Versos como “teu corpo é meu espelho em ti navego, eu sei que a tua correnteza não tem direção”, eram reveladores, mas poucos sacaram. Do amor dito normal, uma pintura desenhada em “Acrilic On Canvas”, com cores, misturas, memórias, promessas e desculpas sem final feliz. Por outro lado, “Eduardo e Monica” superaram as diferenças de classe e de personalidade, se completaram, se entenderam e reverenciaram o amor! Ah, o amor.
A canção “Quase Sem Querer”, na opinião do Renato era a mais alegre e com maior potencial para um hit. Nela, mais uma prova de que seu lirismo havia crescido vertiginosamente. Muitos aprendem a dizer eu te amo, I love you, je t´aime, ti amo, em vários idiomas, Renato preferia dizer “Me disseram que você estava chorando e foi então que eu percebi como lhe quero tanto”. E o que falar daqueles violões ao final desta música? São quase dois minutos de dois, três ou sei lá quantos sons diferentes, um fim apoteótico, à “Layla” de Mr. Clapton. A poesia também estava estampada numa das canções mais perfeitas do mundo Pop de todos os tempos, “Tempo Perdido”. A música combina harmonia, melodia e letra de uma forma absurda. Ela vai criando corpo, aumentando a intensidade, segurando a onda e terminando de forma arrebatadora. Cria em nosso imaginário paisagens como “A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos, então me abraça forte e me diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo”. Quem nunca quis estar dentro dum abraço daqueles em que pode a acabar o mundo, mas eu não estou nem aí? Estrategicamente há um tema instrumental, “Central do Brasil”, antes de “Tempo Perdido” e um violãozinho ao final, numa espécie de coda. Absolutamente perfeito!
Já o lado B do Dois resgata a temática do primeiro disco, embora com uma sonoridade diferente, exceto por “Metrópole”, que retrata o descaso da saúde pública, a falta de empatia com o outro e o espetáculo da desgraça alheia. E olha, que ainda nem tínhamos Cidade Alerta e afins. “Plantas Embaixo do Aquário” clama por paz e que se “Faça do bom senso a nova ordem”, algo utópico hoje em dia.
Este lado dois vai do retrato social de “Música Urbana 2” à desesperança de “Andrea Doria”, aliás, pra mim, a melhor letra feita pelo Renato. Nela é fácil constatar exatamente os dias atuais como “Às vezes parecia que era só improvisar e o mundo então seria um livro aberto. Até chegar o dia em que tentamos ter demais, vendendo fácil o que não tinha preço (...) quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim". Mais direto impossível.
Por falar em dias atuais o que dizer de versos como “Quero trabalhar em paz, não é muito o que lhe peço. Eu quero trabalho honesto em vez de escravidão”. Mais adiante Renato profetizava “O céu já foi azul, mas agora é cinza. E o que era verde aqui já não existe mais”, isso para ficarmos só em dois versos de “Fábrica” que aproveitou a linha melódica de “Desemprego”, uma composição anterior ao primeiro trabalho, mas com uma nova roupagem.
A canção “’Índios’” é um caso à parte. O disco já estava praticamente pronto, seguindo para a mixagem. Porém havia uma canção sem letra e que o Renato não queria deixá-la de fora. Então ele resolveu sentar num canto e escrever uma letra. Até aí tudo bem, não fosse o fato da letra ter nove estrofes e mais um refrão que se repetia na primeira e na segunda parte da música. Tudo bem também se alguém fizer uma letra rapidinha meio sem pé nem cabeça, até mesmo num guardanapo de botequim. Agora quando esse alguém resolve escrever “Quem me dera ao menos uma vez (...) Provar que quem tem mais do que precisa ter, quase sempre se convence que não tem o bastante (...) Que o mais simples fosse visto como o mais importante (...) Fazer com que o mundo saiba que seu nome está em tudo e mesmo assim ninguém lhe diz ao menos obrigado (...) Como a mais bela tribo, dos mais belos índios. Não ser atacado por ser inocente (...) Assim pude trazer você de volta pra mim, quando descobri que é sempre só você que me entende do início ao fim (...) Nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui”, me desculpem, mas não há uma melhor expressão que PUTA QUE PARIU!!!
Ufa! As vezes falta fôlego para degustar tanta poesia! As vezes falta espaço na sala para sair dançando estas músicas. Só não falta a sensibilidade necessária para entendermos o mundo de Renato Russo.
Se alguém ainda duvidava do potencial da Legião Urbana no longínquo 1986, estas indagações cessaram quando do lançamento de Dois! Um álbum de rock, de folk, lírico, inquietante e atual, mesmo três décadas depois.
Enfim, o Dois é uma verdadeira obra-prima!
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