Eu estava cursando o segundo ano
de jornalismo quando, durante uma aula de História, o professor Marcos Cezar,
indagou à classe o que havia acontecido em 31 de março de 1964. Então, eu
respondi que havia ocorrido o Golpe de Estado. Eis que ele, com certa fúria,
respondeu “Golpe de Estado pra você, que pode falar isso hoje. À época os
Militares o chamaram de Revolução”.
Pois é, o Brasil é um país tão sui-generis que golpe vira revolução, mentira
ganha eleição, bizarrice dá audiência na televisão... Até bem pouco tempo,
quando da proximidade da data, nossos canais televisivos e demais órgãos de
imprensa meio que escamoteavam o assunto e, quando muito, salvo raras exceções,
o tratavam meio que an passam.
Já este ano, devido a equivocada
intenção, mais uma, do Presidente Jair Bolsonaro, em “comemorar” a data, o
assunto tem repercutido. Há aqueles que o defendam mesmo sem tê-lo vivido, sem
se quer ter lido a respeito, uma vez que estão hipnotizados por palavras de
ordem que insistem na máxima nazista, de Joseph Goebbels, “uma mentira contada
mil vezes vira verdade”. Sim, porque eles querem nos fazer crer que
torturadores são heróis. Já os que lutaram pela liberdade e a preservação dos
direitos, este sim são subversivos! São comunistas!
Em se tratando do Golpe de 1964,
seus idealizadores o justificaram por conta da corrupção que assolava o país.
Hoje, decorridas algumas décadas, percebemos que não era bem assim. Não se tratava
de uma questão moral, já que, como é de conhecimento público, há documentos que
comprovam a influência norte-americana em todo o processo.
Os seus defensores sempre
gostaram de dizer que no período do Regime Militar não havia corrupção. Hoje, sabe-se que o que
não havia era a informação. Pois cercearam a liberdade de imprensa, a liberdade
dos artistas, a liberdade dos professores e todos àqueles contrários ao regime.
Números da CNV (Comissão Nacional da Verdade), em estudos finalizados em 2014,
apontaram que 434 pessoas morreram por conta do regime, sendo que deste total,
210 foram consideradas desaparecidas, bem como mais de cinco mil exilados. O estudo ainda trata das práticas de tortura “Essa comprovação
decorreu da apuração dos fatos que se encontram detalhadamente descritos no
relatório, nos quais está perfeitamente configurada a prática sistemática de
detenções ilegais e arbitrárias e de tortura(...).”
Claro que este é um assunto
extremamente delicado, por consequência, é melhor eu não me estender muito. O
ideal é que você tire suas próprias conclusões, por exemplo, por meio de livros
como Não És Tu Brasil (Marcelo Rubens
Paiva), Carlos Marighella: o inimigo
número um da ditadura militar (Emiliano José), Ditadura militar, esquerdas e sociedade (Daniel Aarão Reis Filho), a
série Ditadura, de Elio Gaspari, e
mais uma estante cheia deles. Se você não curte leitura, não tem problema, há
ótimos filmes também: O Que é isso
Companheiro? (Bruno Barreto, 1997), Batismo
de Sangue (Helvécio Ratton, 2006), Araguaya
– A Conspiração do Silêncio (Ronaldo Duque, 2004), o excelente documentário
O Dia Que Durou 21 Anos (Flávio
Tavares, 2011) ou o lúdico, até com um ângulo diferente, O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (Cão Hamburger, 2006), entre
tantos outros.
Nunca nos esqueçamos que pessoas morreram
para que eu, para que você, e para que todos nós possamos gozar da liberdade
que temos hoje. Se fazemos, ou não, o bom uso desse direito é uma outra
história.
Eu posso, aqui no meu blog – olha
isso, meu blog –, escrever sobre o que eu quiser, como eu quiser, no momento em
que eu quiser. Naturalmente, assumindo minhas responsabilidades. Porém, se ainda estivéssemos vivendo o regime ditatorial meus textos
teriam que ir para um censor, se é que eu teria autorização de escrever, que
decidiria se podia ou não ser publicado.
E antes que você diga que a
internet é livre, leia sobre a China, sobre a Coréia do Norte...
https://open.spotify.com/user/22hkib5bes45l4jgjkjiwnxqa/playlist/5tOwiPSDNYEKYabmCfIFQG?si=CccsQRJHQySFL50uVDczNQ
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