Uma de minhas principais características, sem dúvida, é a capacidade de memorizar fatos e acontecimentos. Tenho uma memória afetiva que insiste até em guardar fatos que eu poderia, ou deveria, deixar de lado. Abandonar mesmo. Quando tenho a possibilidade de fazer qualquer associação então, pronto. Não me esqueço jamais.
É assim a minha relação com o mês de abril de 2000. Coisas incríveis aconteceram naqueles 30 dias. A começar pelo show do Morrissey, logo na primeira semana, nos dias 3 e 4. Havia mais de uma década do fim dos Smiths e sempre houve especulações quanto à apresentação de Moz, no Brasil. Para felicidade dos paulistas os shows foram marcados para a melhor casa de espetáculos que a cidade já teve, ao menos a minha preferida: o Olympia. Ingressos a R$ 60, na pista, à época, uma fortuna. Mas ninguém se importou.
Para evitar qualquer surpresa, compramos os ingressos no primeiro dia em que foram colocados à venda, diretamente na bilheteria da casa. Felizmente não haviam filas, mas as poucas pessoas que ali estavam, já demonstravam demasiado entusiasmo, com seus topetes, costeletas, cabelos arrepiados, cabelos coloridos, algumas maquiagens estilo dark, jaquetas e botas. Algo muito diferente do exagero de cores de hoje em dia. Era uma galera da minha faixa-etária, ainda beirando os trinta. Oh, céus!
Ninguém se importou também com o fato de que os shows foram marcados para uma segunda e terça-feira. Quem liga para o dia da semana quando se tem a oportunidade de ver um ídolo da magnitude de Steven Patrick Morrissey?
Ao apagar das luzes uma introduçãozinha James Bond, seguido de You're Gonna Need Someone On Your Side colada a Hairdress On Fire. Moz subiu ao palco, calça jeans e blazer escuro, para brindar um público inebriado, pra lá de excitado. Anos de espera chegavam ao fim e cantávamos em uníssono cada uma daquelas canções. Em alguns casos, não seria exagero dizer, com voz embargada. Pra mim pelo menos em Half A Parson e The More Ignore Me, The Closer I Get (hoje mais atual do que nunca). Do repertório dos Smiths, somente Is It Realy So Strange? e Shoplifters Of The World Unite, que foi tocada no bis encerrando a noite, além da já citada Half A Parson. B Sides, nada mais cool.
Mas não era só isso. Morrissey tem um carisma, uma magia, a sua dança, um magnetismo que envolve a plateia de maneira tão contagiante que nem ouso reclamar de não ouvir, por exemplo, Everyday is Like Sunday, Suedhead, I Am Hated For Loving, Alma Matters, Hold On To Your Friend e There Is A Light That Never Goes Out, essa dos tempos dos Smiths. Ou até mesmo da curta duração do show. Pouco menos que 90 minutos.
Voltei pra casa feliz com o que tinha visto, porém, lamentando não ter mais R$ 60 para voltar no dia seguinte, aliás, naquela noite mesmo, pois já estávamos na terça-feira. No carro, ouvíamos o programa Garagem, pela Brasil 2000, que estava sorteando um par de ingressos pro show. Fazer o quê, não é? Deixa pra lá.
No mais, ao telefone, conversando com ela no dia seguinte, ainda transparecia toda a minha euforia ao lhe falar sobre o show e, mesmo sem conhecer bem o Morrissey, ela ficou feliz por mim, compartilhando de meu entusiasmo. Isso era a plenitude da felicidade que eu podia encontrar.
Dias depois, 19 (Santo Expedito, meu padroeiro), houve a grande volta da Plebe Rude no Woodstock Bar, uma quarta-feira, ante-véspera do feriado de Páscoa. O meu já começou na quinta-feira após o almoço, quando não retornei ao trabalho. Pois, fui ser feliz. Aí veio a sexta-feira Santa, que realmente foi sagrada. No sábado, aleluia Senhor! Na Páscoa, ressuscitei tudo na memória e ainda “guardo um retrato teu, e a saudade mais bonita”.
O resto são detalhes que estão muito bem guardados na minha, sempre viva, memória afetiva.
"Good times for a change
ResponderExcluirSee, the luck I've had
Can make a good man
Turn bad
So please please please
Let me, let me, let me
Let me get what I want
This time"
Jânio, meu querido amigo!!!
ResponderExcluir"So, the life I have made
May seem wrong to you
But I've never been surer
It's my life
To ruin
My own way"