terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aprendendo uma lição...

Agora, com a cabeça um pouco mais fria, eu disse só um pouco mais fria, posso escrever sobre o que era pra ser um jogo de futebol, mas não foi. Pois jogos de futebol necessitam de duas equipes, enquanto que no domingo apenas o Barcelona entrou em campo. O Santos, bem... O Santos já entrou derrotado. Primeiro, ao abrir mão de jogar. Tendo em seu elenco jogadores como Neymar, PH Ganso, Elano, Arouca e um goleador como Borges, o time não poderia apenas esperar seu adversário. Segundo, ao respeitar demais os espanhóis. O Alvinegro foi tão respeitoso que, mesmo com apenas 29% de posse de bola, fez o mesmo número de faltas que seu adversário, 13. O Barcelona, que é maravilhoso, não tem o menor pudor em parar o jogo. Basta ver o que aconteceu com Mascherano. Em seu primeiro lance, levou cartão amarelo.

Muricy Ramalho, que foi tão bem no primeiro semestre, conquistando a Libertadores da América e o Paulistão, meteu os pés pelas mãos neste mundial. O paliativo encontrado no 3-5-2 para a partida final só poderia dar certo se o Léo estivesse em plena forma física, o que, visivelmente, não era o caso. Além de Henrique, que assim como Íbson ainda não justificou sua contratação, estar tinindo. Logo, Elano, mesmo em seu interminável inferno-astral, era melhor opção pra começar jogando. Sim, porque se o diferencial do Barcelona é o toque de bola aliado à movimentação, quanto mais gente qualificada você tiver pra tentar roubar essa bola sem desfazer-se dela na sequência, melhor. O único jogador de dribles no time espanhol é o Messi, os demais tem a precisão no passe, o que não é pouca coisa, mas que a marcação junto e saídas rápidas podem amenizá-las.  

Outro erro de estratégia foi a preparação antes do Mundial. Muito antes dos jogos no Japão eu imaginava que o único jogador que deveria ser poupado era Neymar, que não teve férias e, sozinho, jogou mais do que alguns times do Brasil. O menino ter chegado ao fim da temporada sem nenhuma contusão é pra erguermos as mãos pro céu e agradecermos de joelhos. Das últimas quatro partidas do Santos no Brasileirão, três foram realizadas no estado de São Paulo. Uma no Pacaembu, uma na Vila Belmiro e outra, logo ali, em Mogi-Mirim. Nesse ínterim, houve uma viagem a Curitiba, que não é tão desgastante assim. O time titular poderia jogar numa boa. Nestas quatro últimas partidas podia-se, no mínimo, testar alternativas pra enfrentar a equipe espanhola. 

Ainda sobre o Muricy, o que me intrigou por demais foi a sua apatia ante o desenrolar da partida. Nosso treinador não levantou para orientar, sequer xingar, ou mesmo mostrar que estava ali.  Assistiu a tudo como que dissesse “não há o que fazer”. Essa “indiferença” passou pro campo. Quem não estava em estado lisérgico, parecia atônito. Em linhas gerais, o time do Santos não entrou com a “faca entre os dentes”, nem o “sangue nos olhos”, e isso fez toda a diferença. E por que cargas d´água ele tirou o Borges pra colocar o Kardec? Ora, o meio de campo já estava perdido, então colocasse no lugar do Henrique, ou Durval, recuando o Henrique, que já atuou como zagueiro no Cruzeiro. 

Quanto a erros individuais, dois deles de Durval, foram fatais. O zagueiro sentiu demais a responsabilidade do jogo e ele não assimilou bem a necessidade de reforçar o seu lado na marcação. Diga-se de passagem, nenhum de nossos zagueiros é unanimidade, ainda mais expostos, como por vezes ficaram, diante de Messi e cia.       

E o que falar da apatia, a mesma do Muricy, de PH Ganso? Craque, gênio, maestro e quantos mais adjetivos couberem a um camisa 10. Se em 2010 e em alguns jogos decisivos deste ano o garoto mostrou futebol encantador, domingo ele foi medíocre. Tão medíocre quanto tantos outros que assolam nosso futebol. Apesar de dois passes, sua displicência foi irritante. PH Ganso era o que parecia mais deslumbrado diante do rival. Tanto assim, que o cartão amarelo que recebeu foi ele mesmo quem se acusou. Fez a falta e imediatamente pediu desculpas. Oras, desculpas? Aquilo era uma competição, jogo que valia a taça de campeão do Mundo... E se tinha alguém com mais interesse em se valorizar no mundial, era justamente ele, que tem que remar tudo de novo para voltar ao topo. Mas claro, isso passa pela sua cabeça que tem que ser melhor trabalhada, pois o Ganso, e não o Peixe, está morrendo pela boca. Uma conversa séria tem que ocorrer entre o meia e a diretoria. Ou ele está no Santos, de corpo e alma, ou arruma alguém que pague o valor integral de sua multa. O torcedor ainda o respeita, mas já não o tem mais como ídolo pelo simples fato de saber que hoje ele é do Santos, mas amanhã... Nos reconquistar depende única e exclusivamente dele.

Neymar também não brilhou, perdeu um gol que num dia normal não perderia, mas mostrou alguma vontade, mostrou brio e ainda deu uma entrevista absolutamente madura e precisa. Estava consternado, olhos marejados, como o torcedor santista estava. Por isso é ídolo. Não por acaso, o respeito dos jogadores catalães a ele não se abalou. 

No mais, Rafael mostrou ser um goleiro confiável, não teve qualquer responsabilidade nos gols e ainda pegou o que podia. Borges, coitado. Recebeu apenas uma bola em condições ideais de finalização, a outra estava pressionado. Arouca, isolado no meio, tentou em vão. Não por sua culpa, mas da distância que existia entre os jogadores do Santos. Olhando à primeira vista, parecia que o Barcelona tinha mais jogadores em campo, mas não tinha. O bonito em seu futebol é que quem passa a bola, não fica estático, busca um espaço, dá opção de passe, por isso pouco erram neste fundamento. A maioria dos passes são curtos, daí tamanha posse de bola.  

Mas enfim, ao contrário de muito do que já foi dito, muito oportunismo inclusive, este Santos é um dos melhores times, senão o melhor, do Brasil. Não se ganha um Paulista e uma Libertadores, simultaneamente, sem qualidades. Muricy não passou de bestial a besta por este jogo. Ele fez um erro de avaliação. Certamente aprenderá com isso e melhorará, pois conhece seu ofício. Não é porque perdeu para o Barcelona que tudo está errado. Em hipótese alguma  deve-se promover uma caça às bruxas, mas a maturidade tem que vir daí, de uma derrota retumbante como esta.

O Santos tem em Neymar e PH Ganso a própria lição de que uma derrota, se bem assimilada, só engrandece. A primeira decisão que estes meninos enfrentaram, saíram derrotados. Porém, apenas dois anos depois eles já conquistaram a América, ganharam a Copa do Brasil e mostraram a supremacia no Estado, inclusive, vingando-se daquela primeira derrota, alcançando o bicampeonato. Some-se a isso o fato do camisa 11 santista virar um ídolo nacional, que só a inveja alheia, nosso eterno complexo de vira-lata, não consegue enxergar. Aliás, estas pessoas estavam apenas esperando esta derrota pra dizer que o garoto é uma fraude, um produto da mídia. Falam até em falta de humildade. Quer maior exercício de soberba que julgar a quem você não conhece? 

Aqui entre nós, esta derrota diz muito do futebol que se pratica hoje no Brasil, inclusive. Desde os treinadores e jogadores, passando pela imprensa e os torcedores. É só olhar os prêmios do Campeonato Brasileiro na Bola de Ouro da Placar/ESPN e o Troféu Armando Nogueira (Sportv): por que diabos a seleção do campeonato tem que ter dois volantes? 

Além do desabafo deste torcedor, cabe aqui muita reflexão.







  


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Legião Urbana transforma a noite em prá lá de especial!

Passados 15 anos do fim da Legião Urbana, a banda voltou a uma grande arena. Ambiente este, que eles tão bem dominavam já a partir do seu segundo disco, a obra-prima DOIS. Recentemente Dado e Bonfá chegaram a fazer algumas apresentações juntos depois da morte de Renato Russo, mas sempre em pequenos lugares. Os shows que deram origem ao álbum ao vivo Como é Que Se Diz Eu Te Amo, foram mesmo os últimos grandes momentos, com relação ao tamanho do público, em cima de um palco.

Mais que um simples convite para abrirem a noite extra do Rock in Rio, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos aceitaram o desafio de tocar acompanhados da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Uma honra. A despeito do pouco tempo, aproximadamente uma hora, de show, a apresentação foi, sobretudo, uma homenagem a quem melhor representa o chamado Rock Brasil, surgido lá no inicio da década de 80, após a gravação do primeiro disco da Blitz, em 1982. Quem esteve presente a Cidade do Rock ou mesmo acompanhou de casa, sentiu o quão especial era um show da maior banda do Brasil. Se alguém ainda duvidava da grandiosidade e importância da Legião Urbana, tudo caiu por terra após esta quarta edição do Rock in Rio. A emoção foi o maior sentimento de todos os presentes, num público tão heterogêneo e de faixa-etária pra lá de variada.   

Aos convidados que assumiram os vocais de canções tão especiais uma responsabilidade e tanto. O bacana é que ninguém estava lá para substituir o Renato, que é insubstituível, mas sim para renderem seu tributo ao ídolo de mais de uma geração. A abertura do espetáculo começou com a OSB fazendo um medley das canções Eduardo e Mônica / Faroeste Caboclo / Ainda é Cedo / Que País é Este / Há Tempos / Geração Coca-Cola, enquanto imagens que ilustravam as músicas e da própria banda eram mostrada no telão.  Depois um vídeo de momentos de seu vocalista, com alguns depoimentos e programas de tevê, ao som de Que País é Este.

O primeiro convidado a subir ao palco foi Rogério Flausino, curiosamente sua banda (Jota Quest) começou exatamente em 1996, ano da morte de Renato Russo. Rogério cantou Tempo Perdido e Quase Sem Querer, devidamente entoadas pela plateia. Chegou até a arriscar alguns passos à La Renato. Toni Platão, da velha-guarda (Hojerizah), e seu vozeirão arrematou Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto. Além de uma bela lembrança de outro desbravador do roque brasileiro, Rédson do Cólera, falecido na última quarta-feira.   

Coube a Pitty a responsa de cantar a música mais difícil do repertório da noite, “Índios”. Esta, até seu autor tinha dificuldades pra cantá-la. Visivelmente deslocada no início, ela foi se soltando ao longo da canção e conseguiu terminar no clima.  Marcelo Bonfá soltou sua voz em O Teatro dos Vampiros, outra música de variação de inflexões vocais em que o baterista se saiu muito bem.

Estrategicamente, ou coincidentemente, duas canções do primeiro álbum da Legião Urbana foram cantadas por dois amigos dos tempos de Brasília. A primeira veio com o padrinho da banda, Hebert Vianna, com Será. Foi exatamente esta música quem desencadeou todo o processo legionário. É ela quem abre o lado A do primeiro disco, todos os vinis acabaram de ser relançados, cujo título é o nome da própria banda. É o primeiro hit do grupo e está tudo ali, basicamente, em sua letra. Encerrando esta primeira parte, Dinho Ouro-Preto cantou Por Enquanto, que é a última canção deste primeiro disco, acompanhado de um coro de mais de 100 mil vozes. Àquela altura, a emoção era mais do que latente.

Pais e Filhos foi a deixa pra todos subirem ao palco, a maioria com uma camiseta de Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães morto em acidente automobilístico, e provocar uma verdadeira catarse coletiva. Absolutamente todos a entoaram em uníssono. Foi contagiante ver os músicos da OSB absolutamente encantados com aquele momento. Eles cantaram juntos, bateram palmas, se envolveram inteiramente. Até os câmeras de tevê estavam cantando. Como o Dinho oportunamente destacou, sobre as canções da Legião Urbana “na verdade, hoje era a noite que não precisava de ninguém aqui em cima cantando, vocês podiam cantar sozinhos”. Simplesmente maravilhoso.

Será voltou pra encerrar a noite de forma apoteótica. A Legião Urbana saciou seu público e, certamente, conquistou quem não os conhecia e os que não entendem (iam) o porquê de tanta admiração por uma banda que acabou há 15 anos.

Bem, eu depois de quase nove horas dirigindo, mais de duas horas só pra sair da cidade de São Paulo, trânsito e tantas obras na cidade do Rio de Janeiro e caminhar cerca de 1,5 km, até quase a grade do palco Mundo, me senti devidamente recompensado. Eu até que tentei cantar todas as músicas, mas não consegui. Não era cansaço, não. Era a mais pura emoção. Minha voz estava embargada e lágrimas se misturaram a meu suor. O que Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, juntamente a Orquestra Sinfônica Brasileira e seus convidados, fizeram, só reafirmam a capacidade destas bandas dos anos 80. Como oportunamente disse Bruno Mazzeo, após a apresentação da Legião Urbana “Eu sou de uma geração que cresceu tendo como ídolos pessoas que tinham o que dizer, que passavam mensagens, que criticavam o sistema e tudo o mais”. Humildemente, eu assino em baixo!

sábado, 24 de setembro de 2011

Titãs & Os Paralamas do Sucesso no Rock in Rio 2011

O tempo passou pra eles também e tanto os Titãs quanto Os Paralamas do Sucesso não são os mesmos de quando ganhei meu primeiro álbum de rock and roll, Cabeça Dinossauro, em 1988, da banda paulistana, que ainda contava com oito integrantes. Nem os mesmos de quando assisti ao meu primeiro show de rock, na saudosa casa Olympia, em São Paulo, quando Hebert, Bi e Barone estavam encerrando a turnê do excelente álbum Bora Bora, em 1989.

Mas, honestamente, isso é pouco relevante pra história e o legado que estas duas bandas têm na música brasileira. Titãs e Paralamas estão além de meros rótulos e, naturalmente, a longevidade trouxe algum desgaste, especialmente aos Titãs que já mudou bastante sua formação, desde seu primeiro álbum.

Gostem ou não, Paralamas e Titãs trouxeram um sopro de rock pra essa primeira noite de Rock in Rio e o fizeram de forma belíssima. Acompanhados da Orquestra Sinfônica Brasileira (que também acompanhará a Legião Urbana no dia 29, próximo), a dupla se baseou no repertório da turnê de 25 anos que fizeram juntas há algum tempo, lançado também em DVD. Até pelo público presente ao local, em razão das outras atrações, as bandas apostaram num repertório de hits, algo que ambas têm aos montes.

Para abrir a noite, a organização colocou imagens no telão das primeiras edições do festival, incluindo as apresentações destas duas bandas, e homenageou Fred Mercury, com direito a Milton Nascimento cantando Love Of My Life, do Queen, acompanhado do guitarrista Toni Belloto, Titãs, e da Orquestra Sinfônica Brasileira, absolutamente desnecessário e equivocado. Aliás, sobre a Orquestra Sinfônica, foi uma pena ela praticamente não ser ouvida durante o show das bandas. Espero que isso seja equacionado para a apresentação da Legião Urbana.

A abertura veio com Óculos, um dos maiores destaques já na primeira edição do festival, em 1985, quando o trio paralâmico, com maestria, dominou aquele palco enorme. Depois eles foram revezando um sucesso de cada conjunto, assim mandaram Sonífera Ilha, Ska, Marvim, O Beco, Comida até chegar em Alagados. Lourinha Bombril, contou com a participação especial de Maria Gadu, que não comprometeu.    

A balada Epitáfio, a música mais nova de todo o repertório, hit de novela, teve ótima resposta do público. Parece até que foi tocada mesmo pra recuperarem o fôlego. A sequência veio na pancada de Homem Primata, a sempre visceral Selvagem, o esporro de Polícia, Meu Erro, que durante anos fechou os shows dos Paralamas e pra encerrar, Flores, do álbum Õ Blésq Blom, de 1989, um dos últimos grandes discos dos Titãs. Ao final uma constatação, eles ganharam a plateia.

Enfim, mesmo acompanhando apenas pela tevê, confesso que este show me emocionou. Nem tanto pelo show, mas pela história sendo contada por quem tem tanta propriedade pra isso. Estas duas bandas já fizeram mais pela nossa música do que uma série infindáveis de artistas que surgem e somem na mesma velocidade, sem deixar nada. Depois de anos de estrada é empolgante ver o quanto estes caras estão a fim de fazer música. Além da garra demonstrada no palco.

Parte do mercado do rock no Brasil, do próprio sucesso de festivais como o Rock in Rio, o saudoso Hollywood Rock e outros, passa por estes caras e praticamente toda a cena dos anos 80.

Sinceramente, eles mereciam mais do que 50 minutos no palco. Tirando o Elton John, que tem uma baita história, eles não devem nada a ninguém desta noite. Muito pelo contrário, põe a maioria do festival no bolso.

Agora, se eu me emocionei com este show o acompanhando pela tevê, imagina como me sentirei estando presente lá e vendo Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá subirem juntos no mesmo palco?

Ah, naturalmente, eu também não sou o mesmo de 1988 ou 1989. Se fosse, talvez não me emocionasse com a mesma facilidade...
 http://www.youtube.com/watch?v=WA65Bq-J_SY

Titãs & Paralamas no Rock in Rio 2011


O tempo passou pra eles também e tanto os Titãs quanto Os Paralamas do Sucesso não são os mesmos de quando ganhei meu primeiro álbum de rock and roll, Cabeça Dinossauro, em 1988, da banda paulistana, que ainda contava com oito integrantes. Nem os mesmo de quando assisti ao meu primeiro show de rock, na saudosa casa Olympia, em São Paulo, quando Hebert, Bi e Barone estavam encerrando a turnê do excelente álbum Bora Bora, em 1989.

Mas, honestamente, isso é pouco relevante pra história e o legado que estas duas bandas têm na música brasileira. Titãs e Paralamas estão além de meros rótulos e, naturalmente, a longevidade trouxe algum desgaste, especialmente aos Titãs que já mudou bastante sua formação, desde seu primeiro álbum.

Gostem ou não, Paralamas e Titãs trouxeram um sopro de rock pra essa primeira noite de Rock in Rio e o fizeram de forma belíssima. Acompanhados da Orquestra Sinfônica Brasileira (que também acompanhará a Legião Urbana no dia 29, próximo), a dupla se baseou no repertório da turnê de 25 anos que fizeram juntas há algum tempo, lançado também em DVD. Até pelo público presente ao local, em razão das outras atrações, as bandas apostaram num repertório de hits, algo que ambas têm aos montes.

Para abrir a noite, a organização colocou imagens no telão das primeiras edições do festival, incluindo as apresentações destas duas bandas, e homenageou Fred Mercury, com direito a Milton Nascimento cantando Love Of My Life, do Queen, acompanhado do guitarrista Toni Belloto, Titãs, e da Orquestra Sinfônica Brasileira. Aliás, sobre a Orquestra Sinfônica, foi uma pena ela praticamente não ser ouvida durante o show das bandas. Espero que isso seja equacionado para a apresentação da Legião Urbana.

A abertura veio com Óculos, um dos maiores destaques já na primeira edição do festival, em 1985, quando o trio paralâmico, com maestria, dominou aquele palco enorme. Depois eles foram revezando um sucesso de cada conjunto, assim mandaram Sonífera Ilha, Ska, Marvim, O Beco, Comida até chegar em Alagados. Lourinha Bombril, contou com a participação especial de Maria Gadu, que não comprometeu.    

A balada Epitáfio, a música mais nova de todo o repertório, hit de novela, teve ótima resposta do público. Parece até que foi tocada mesmo pra recuperarem o fôlego. A sequência veio na pancada de Homem Primata, a sempre visceral Selvagem, o esporro de Polícia, Meu Erro, que durante anos fechou os shows dos Paralamas e pra encerrar, Flores, do álbum Õ Blésq Blom, de 1989, um dos últimos grandes discos dos Titãs. Ao final uma constatação, eles ganharam a plateia.

Enfim, mesmo acompanhando apenas pela tevê, confesso que este show me emocionou. Nem tanto pelo show, mas pela história sendo contada por quem tem tanta propriedade pra isso. Estas duas bandas já fizeram mais pela nossa música do que uma série infindáveis de artistas que surgem e somem na mesma velocidade, sem deixar nada. Depois de anos de estrada é empolgante ver o quanto estes caras estão a fim de fazer música. Além da garra demonstrada no palco.

Parte do mercado do rock no Brasil, do próprio sucesso de festivais como o Rock in Rio, o saudoso Hollywood Rock e outros, passa por estes caras e praticamente toda a cena dos anos 80. 



Sinceramente, eles mereciam mais do que 50 minutos no palco. Tirando o Elton John, que tem uma baita história, eles não devem nada a ninguém desta noite. Muito pelo contrário, põe a maioria do festival no bolso.

Agora, se eu me emocionei com este show o acompanhado pela tevê, imagina como me sentirei estando presente lá e vendo Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá subirem juntos no mesmo palco?

Ah, naturalmente, eu também não sou o mesmo de 1988 ou 1989. Se fosse, talvez não me emocionasse com a mesma facilidade...
http://www.youtube.com/watch?v=WA65Bq-J_SY

domingo, 14 de agosto de 2011

"Aos pais de ontem, hoje, amanhã e sempre"

Por ocasião do Dia dos Pais postarei um texto que escrevi, para a mesma ocasião em 2005, quando era colunista do jornal Correio da Região.

Depois de dois longos anos de espera – a última apresentação havia acontecido em 19 de julho de 1988, no terceiro aniversário da revista Bizz –, finalmente a Legião Urbana voltava à capital paulistana. “São Paulo sempre recebeu a Legião super bem”, declarava o guitarrista Dado Villa-Lobos, durante a passagem de som.   

Com o estrondoso sucesso do álbum As Quatro Estações – nada menos do que seis canções eram hits até aquele momento –, a organização ousou e marcou duas apresentações para o Palestra Itália, estádio do Palmeiras. Além do sucesso radiofônico, havia o respaldo da apresentação carioca no Jockey Club Arena, presenciado por mais de 50 mil pessoas. Na ocasião, além da própria banda, havia a comoção da morte de Cazuza, no mesmo 7 de julho. Naturalmente, o cantor foi homenageado e reverenciado por Renato Russo como se estivesse na plateia.

Por uma feliz coincidência, as datas paulistanas coincidiram com o fim de semana do Dia dos Pais, 11 e 12 de agosto. Mais um motivo para tornar o evento especial. No sábado as filas começaram as 6h00 – o show estava marcado para as 21h30 -, demonstrando a mítica de uma banda que nasceu para ser diferente. Uma carga de ingressos falsos provocou superlotação do estádio, obrigando a banda a subir ao palco com uma hora de atraso. Segundo números da Polícia Militar de São Paulo, cerca de 100 mil pessoas compareceram aos shows. As filas tomavam todo o quarteirão formado pelas avenidas Pompéia, Antártica e Francisco Matarazzo e ainda as ruas Turiassu e Padre Antonio Tomaz, que contornam o estádio.

Na cidade-trabalho nada mais apropriado do que começar a apresentação com Fábrica, a partir dali foram duas horas de cumplicidade entre banda e público. Embora Renato não gostasse desse tipo de tratamento, era impossível se referir a uma apresentação da Legião como mais um show. Primeiro, porque eles eram raros, depois   o próprio Renato fazia   questão   de   se   dirigir   ao público como a um amigo. Alguém que você confidencia segredos, compartilha coisas boas e também as ruins, enfim, dá sem esperar nada em troca, a não ser carinho e atenção – inclusive subiu ao palco com um buquê de flores à plateia.

Quanto ao Set List, quase perfeito. Seguindo basicamente o roteiro de toda a turnê, a diferença entre as duas noites ficou por conta de Faroeste Caboclo apresentada apenas no domingo. Mas como não sentir a falta de Andréa Dória, Sete Cidades, Acrilic On Canvas, Baader... No palco a banda estava reforçada pelos músicos Bruno Araújo (contra-baixo), Fred Nascimento (Violão) e Mu (Teclados). Além do belo tratamento na iluminação de Maneco Quinderé, renomado profissional do teatro.

O repertório apresentou todas as músicas de As Quatro Estações e boa parte dos Lps anteriores, isso mesmo LPs, coisa que os mais jovens nem conhecem, além das habituais incidentais. Assim eram tocadas Pais e Filhos/Stand by Me, Maurício/She Loves You, Ainda é Cedo/Like a Prayer/Gimme Shelter/Pretty Vacant, Soldados/Faz   Parte   do   Meu   Show/ Clareia/ Help. A Legião ia do lirismo de Monte Castelo ao heavy metal de Feedback Song For A Dying Friend causando a mesma reação na platéia. No show de domingo, durante a execução de Soldados, um dos momentos mais marcantes das duas noites foi quando Renato homenageava ícones da cultura pop, reverenciando-os “Salve Jim Morrison; Salve Raul Seixas; Salve Cazuza; Salve John Lennon ...",  num breve espaço em que o cantor foi recuperar o fôlego, de forma espontânea, a plateia emendou "Salve   Legião. Salve   Legião", emocionando o vocalista.  

O que mais importava à banda naquelas duas noites era que tudo corresse bem. Sem a famosa garrafa de Velho Barreiro, do Ibirapuera. Sem as bombas e a violência desenfreada dos moleques de Brasília. Sem a areia atirada ao palco por alguns animais da Cidade Maravilhosa na pista do Jockey. O público entendeu e nem mesmo o desconforto causado pela enorme derrama de ingressos falsos do sábado, foram  capazes de macular os shows realizados num estádio acostumado a grandes espetáculos. Por lá já tocaram Iron Maiden, David Bowie, Metallica,  Rod Stewart e  outros. Nada, no entanto, será igual a este Dia dos Pais.

Como numa verdadeira celebração, ao final das duas apresentações uma grande queima de fogos abrilhantava a noite da Zona Oeste de São Paulo. Seis poderosos canhões de luzes foram direcionados para os prédios vizinhos, que estavam repletos, como se suas casas fossem uma extensão do estádio. Era a minha primeira apresentação da Legião Urbana, algo que aguardava com extrema ansiedade, mas que foi devidamente recompensada por um espetáculo primoroso.

Quem teve o privilégio de acompanhar in loco estas apresentações puderam reacender ainda mais a memória, quando do lançamento de As Quatro Estações – Ao Vivo (ah, como isso merecia um DVD!). Para aqueles menos afortunados, é possível ter uma pequena dimensão do que era a banda Legião Urbana ao vivo. É apenas uma noção, porque saber mesmo, só quem viu.

Feliz Dia dos Pais.

sábado, 30 de julho de 2011

Trilhas Sonoras de Amor Perdidas

Eu ainda tenho ao menos uma gaveta com fitas k7s no meu guarda-roupas e mais uma ou outra caixa de sapatos em algum outro lugar. Eu me amarrava em ficar montando meu próprio running order das canções que gravaria em uma fita. Exageradamente, ou não, eu tinha até o cuidado de somar o tempo das músicas para que nenhuma fosse interrompida pelo encerramento dos lados A e B. Complicação, diversão, distúrbio, ou qualquer coisa do gênero, eliminados pelas gravações em CDs. Adeus toca-fitas auto-reverse. Agora me preocupo se gravarei um disquinho com 80 minutos (wav, que é o formato dos CDs normais) ou se gravarei 10 horas em MP3. Se a opção for a última, tenho que separá-las em pastas referenciais, senão dará um trabalho danado achar uma canção em especial. Ainda sobre as tapes, a Basf 60 cromo era a clássica, como alternativa a melhor era a TDK, enquanto que como uma terceira opção, a VAT.

Em princípio fazia as fitas pra mim mesmo. Um parêntese aqui: talvez vocês não acreditem, mas comecei fazendo compilações de discos de novela, as internacionais. Pois é, nem sempre fui um devoto do rock and roll. Passei por algumas fases antes de chegar até aqui (rs). Bem, retomando a trilha, posteriormente comecei a fazer fitas pros amigos. Depois, naturalmente, passei àqueles instantes para impressionar alguém. Eis aí o xis da questão: a lista que fazemos pra alguém com segundas, ou todas, intenções. É o momento em que nos expressaremos pelas palavras dos outros (isto está no livro Alta Fidelidade, do Nick Hornby, cujo trabalho inspirou a peça). Esse é um momento sublime, então tem que ter um certo capricho, um cuidado, tudo pra não soar exagerado, nem intenso demais. É preciso dar fôlego a outra pessoa e fazê-la pedir mais.

O espetáculo Trilhas Sonoras de Amor Perdidas passa, em memória, por este período, quando ainda crianças ou adolescentes, nos iniciamos na melancolia da música pop, com um universo todinho nosso.  É inevitável a identificação com o personagem vivido pelo ator Guilherme Weber. Nunca escrevi um diário, mas tivesse eu cultivado este hábito poderia dizer que a peça foi escrita após alguém roubá-lo de mim.  Ser um adolescente introvertido, tímido, começando a curtir músicas, livros, cinema. Romantizando relacionamentos a procura de alguém com a mesma intensidade, mesma devoção e obsessão, não exatamente o mesmo gosto, mas algo muito próximo. Pois é, o melhor de tudo isso é descobrir que não sou o único a ter o “diário roubado", mas toda uma geração. Claro que o fato de o personagem de Weber ser jornalista, ter 38 anos, e estar se preparando para buscar um novo amor, faz tudo ser ainda mais verossímil.  

Sentado solitariamente numa poltrona de seu novo apartamento, com uma xícara de café, Weber recorda seu grande amor, Soninho, interpretada por Natália Lage. Tudo a partir de uma fita k7 datada de 1994, mas que não identifica quais as músicas contidas. Culpa, talvez, daquele espaçozinho ridículo que as fitas tinham para escrevê-las. Então ele a coloca no toca-fitas e o som do Pavement reverbera e desencadeia toda a trama.

Foi a magia da música que os aproximou, os conectou e permitiu que personalidades distintas pudessem criar um amálgama  em torno de ambos. Soninho está para Weber, como Summer Finn está para Tom Hansem , em 500 Dias Com Ela (se você ainda não o viu, veja). 

Weber vai reconstruindo os caminhos que o levaram até ela, todos, devidamente pavimentados por canções pop, bem como os que passou ao lado dela, o casamento... Desde quando a observou pela primeira vez, surpreendendo-a a cantarolar Thirteen, do Big Star, num bar de sua cidade (imagina aquela música que você pensa que só você conhece, justo a menina mais bonita do local começa a cantar junto), quando usava um vestidinho preto, daqueles “venha foder a dona”, como ela mesma o descreve mais adiante. Quanto mais a conhece, mais se envolve, mais se apaixona. Imagino não ser nem um pouco difícil se encantar por uma menina cujo primeiro single de sua vida foi a obra-prima Good Vibrations, dos Beach Boys. Uau, escrevendo isso, lembrei-me, agora, de já tê-la afetuosamente dedicado a alguém, por ocasião de seu aniversário. Também era essa a canção que desligava o bloqueio, na estação submersa da ilha de Lost, de qualquer sinal de comunicação entre a ilha e o resto do mundo.

Além de Soninho, há também destaque a Singer, interpretada por Maureen Miranda, que foi a garota com quem Weber perdeu a virgindade ao incrível som de Beast of Burden, dos Rolling Stones. Bem, essa eu ainda não dediquei a ninguém, não. Mas quem sabe?

Trilhas Sonoras tem a fórmula de sucesso e qualidade de dois mestres do cinema, John Hughes e Quentin Tarantino, que é aliar um ótimo texto com canções maravilhosas. Passam pela vitrola e tape-deck Pavement, Big Star, David Bowie, Prince, Elton John, New York Dools, Pretenders, Gladys Knights & The Pips, Nirvana, The Cure, The Smiths, R.E.M, Pearl Jam, Pixies, Blur, Beach Boys, e mais uma porção de coisas bacanas, mas que não vou poder me lembrar de todas, I sorry. Quanto aos Beatles, Led Zeppelin, Ramones e que tais eu não me esqueci, não. É que não tem mesmo. Ao menos que eu me lembre. Ah, na noite em que vi o espetáculo, 24/07, antes dos atores entrarem em cena, com a sala apenas na penumbra, uma bela homenagem a Amy Winehouse, com Back to Black.

O público se envolve com uma história tão comum à nossa geração. Há momentos realmente mágicos como quando Soninho canta Don´t Get Me Wrong, dos Pretenders, à capela. Weber no backing vocal, e dançando, de Gladys Knights & The Pips, todo o momento que resgata Singer em sua memória. Os conflitos do casamento. A contextualização histórica por conta do lançamento do álbum Desintegration, do The Cure. A morte de Kurt Cobain. E, ao menos pra mim, o momento mais sublime do espetáculo quando Weber, à sua maneira, pede Soninho em namoro. Algo como “Eu não sei se você tem namorado, o que eu sei é que eu gosto de você. Eu quero ocupar um espaço na sua vida. Pode ser o espaço de amigo ou de namorado. Qualquer espaço que tiver na sua vida, pra mim tá bom. Eu posso começar num espaço e depois ocupar outro espaço. Não tem problema”, depois seguem pra casa da moça e trocam beijos ao som de uma coletânea dos primeiros trabalhos de Elton John.

O espetáculo tem aproximadamente três horas de duração, dividida em dois atos com um intervalo de 15 minutos entre ambos. O primeiro é dedicado a adolescência, quando as músicas são, digamos, mais lado B. Já o segundo ato representa a vida adulta, a partir do casamento dos protagonistas. Musicalmente falando tem um lado mais pop. Acho que isso acontece quando ficamos mais velhos. Mas a qualidade continua em alta.

Depois de assistir Meia Noite em Paris e agora Trilhas Sonoras de Amor Perdidas creio que sou um privilegiado. Também me enche de esperança de me reencontrar, além de, talvez, mais seguro para encontrar a minha Soninho, minha Adriana, minha Summer, minha Malu, minha Mônica...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Aos amigos!!!

“Não somos nós que escolhemos nossos amigos e sim eles que nos escolhem”. Se a frase acima é verdade eu não sei, mas feliz é aquele que consegue ter alguns destes pra todos os momentos da vida.

Diferentemente de parentes, que são impostos, amigos se criam por conta de algum vínculo afetivo com o mundo exterior. Pode ser um time de futebol, uma banda, a escola, o trabalho, uma causa e até a internet. Motivos, lugares e horas não faltam pra se encontrar um amigo.

Mas não se iludam, pois amigos são tão preciosos que são raros. Ao longo da vida conhecemos centenas, milhares de pessoas até. Mas aqueles que iremos chamar de amigos, que nos lembraremos pra vida toda, independentemente de quanto tempo demora pra nos vermos, serão poucos. Por conta disso os guarde no coração.

O amigo verdadeiro é aquele que saca que você não está bem só em você dizer oi. É aquele que se coloca a ajudar sem nem ao menos pensar no que acontecerá a ele próprio. Por isso a amizade verdadeira é incondicional. Por isso é pra poucos.

Cultive cada um destes e os trate como se cada encontro fosse o último. Não se envergonhe em dizer o que sente, o quanto é importante em sua vida e quão bem faz a você.

Bem, meus verdadeiros amigos sabem que me dirijo a eles. Àqueles que sou apenas colega, sempre haverá uma chance.

terça-feira, 19 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 4

Há exatos 23 anos a Legião Urbana subia ao palco do extinto Projeto SP, em comemoração ao 3º aniversário da – então, ótima – Revista Bizz, pela última vez com a clássica formação que gravou os três primeiros álbuns da banda. Pouco tempo depois o baixista Renato Rocha saiu sem maiores detalhes, enquanto o grupo já havia definido ser necessário mudar o rumo do barco. Sobretudo por conta do fatídico show de Brasília, 31 dias antes desta apresentação, que não acabou bem e mexeu com o emocional de seus integrantes. Ou seja, depois deste show a Legião Urbana se trancaria num estúdio por longos 12 meses. No entanto, o resultado deste árduo trabalho nos recompensaria com o magnífico As Quatro Estações.

A turnê de Que País é Este, diga-se de passagem, fora encerrada alguns dias antes com as duas apresentações no Festival Alternativa Nativa, com shows memoráveis e de casa abarrotada. Vale lembrar que este festival era apenas com bandas nacionais dividindo o palco do Maracanãzinho. À Legião Urbana, porém, cabia o privilégio de desempenhar suas performances sozinha, com um público e palco somente seu.

Já para o aniversário da Bizz, a ideia original para esta apresentação era fazer um show apenas com covers dos Beatles, Jimi Hendrix, Rolling Stones, Elvis Presley, David Bowie, devidamente executadas depois de abrir com Que País é Este que, até aquele momento, abriu quase todos os shows da banda, desde o primeiro trabalho gravado.

A Legião desfilou clássicos como Purple Haze, Come Togheter, Heroes, Rout 66, Summertime, You´ve Got to Hide Your Love Away e ao fim do set o público queria mesmo era ouvir as canções da banda.

Assim Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha tocaram parte do repertório da turnê para um público privilegiado. Afinal, a casa era pequena e não havia aquela loucura típica dos raros shows da banda. A apresentação seguiu com Eu Sei, Quase Sem Querer, Faroeste Caboclo (que ainda era executada nas rádios de um extremo ao outro do país), Ainda é Cedo (sempre especial e intensa), Baader-Meinhof Blues, Angra dos Reis, Mais do Mesmo, Tempo Perdido, Será e “Índios”. Entre uma faixa e outra Renato Russo mostrava seu lado carismático e conversava com o público como se todos fossem seus velhos amigos. 

Traçando um paralelo, é impressionante lembrar que a apresentação seguinte da banda em São Paulo aconteceu dois anos depois, no auge do álbum As Quatro Estações, com dois dias no estádio Palestra Itália, com um público estimado em 100 mil pessoas. Se alguém ainda duvidava do potencial da banda, este quarto disco não deixou qualquer interrogação. 

Com a morte prematura de Renato Russo, em 1996, a Legião Urbana acabou, mas o seu legado ainda está aí. Pra nossa geração e quantas mais vierem.

Nesta mesma noite foi criado o fã-clube Legião Urbana no Coração dos Paulistas.  Um grupo de fãs da banda tão heterogêneo que seu gosto musical variava da MPB ao Punk, underground e outras tendências. Pessoas que convergiram por conta de uma paixão alucinada e desenfreada, mas que dificilmente se conheceriam numa megalópole como São Paulo. Porém, a oportunidade nos foi dada e vem daí algumas de minhas amizades pra vida toda: Alcina, Cilene, Claudinha, Jânio, Eduardo, Walt, Subré, Jobert, Marcelo, Luzia, Marcos, Marcio... Enfim, gente que não vejo com frequência, mas quando nos encontramos é sempre especial.      

URBANA LEGIO OMNIA VINCIT. OUÇA NO VOLUME MÁXIMO!   

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 3

O Começo do Fim do Mundo foi um marco na cena Punk Paulistana, ocorrido no início da década de 80, no SESC Pompéia. Este festival reuniu cerca de 20 bandas em dois dias de shows, exposições e outras formas de divulgação da cena Punk mundo afora. O evento teve direito a grande repercussão de mídia, inclusive, internacional, além de reunir inimigos declarados como os Punks de SP e do ABC. A ideia era difundir e fortalecer o movimento e acabar com o estigma de violência gerada por seus seguidores.  

Então, nada mais apropriado que Os Inocentes celebrassem seus 30 anos de Punk no mesmo SESC com direito a vários convidados e um público variado. Sim, não eram só punks, não. Eu, por exemplo, nunca fui Punk, mas sempre gostei do som sujo e simples e, como bem definiu Clemente, “fodam-se os rótulos”.

A noite começou com Nada de Novo no Front, pra mostrar que pouca coisa mudou nestes 30 anos. O primeiro convidado a subir ao palco foi Maurício, primeiro vocalista da banda, pra cantar Medo de Morrer e Garotos do Subúrbio, esta última, já com outro convidado, o guitarrista Calegari (365). A partir daí o público entrou em ebulição total.

Antes de outra participação especial Aprendi a Odiar causou arrepios, abrindo espaço para André Parlato, ex-baixista da banda, em Ele Disse Não. Intolerância veio acompanhada de um discurso do vocalista Clemente sobre os novos ataques neo-nazistas em Sampa, essas babaquices inconsequentes de sempre.

Em meio a tantos marmanjos no palco chega a vez do toque feminino de Sandra Coutinho, das Mercenárias, na execução de Somos Milhões e Desequilíbrio.  

Ari Baltazar, do 365, veio pra nos brindar com o hino São Paulo, devidamente entoado pelo público numa noite fria, tipicamente paulistana. Na sequência, a sua versão de Grandola, Vila Morena. Encerrando as participações, pra lá de especiais, sobe ao palco um alucinado Wander Wildner, dos Replicantes. Primeiro vem Milagre e pra acabar com nossos esqueletos, Surfista Calhorda.

Com o público em êxtase Os Inocentes arremataram o serviço com Cala a Boca e Pátria Amada. Fim.

Opa, eles voltam e atacam de Pânico em SP, com a devida apresentação da banda com a mesma formação a mais de uma década e meia. Pra fechar com chave de ouro e com todos os convidados no palco tocam, em clima de festa total, I Fought The Law, do Clash. Agora sim, é o fim de uma grande noite.

Bom pra relembrar um período de quando a informação era segmentada, de difícil acesso. Quando a qualidade era o diferencial e não a velocidade. Bons discos requeriam uma garimpada em lojas especializadas, como a Wop Bop, no centro de São Paulo.  Muito diferente da efemeridade contemporânea.

Que me perdoem os mais jovens, mas shows como este, só bandas deste quilate são capazes de nos proporcionar. Ah, eu ainda ganhei a palheta do Ari Baltazar. Cool!     

Fatality, we win!!!! 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 2

Seguindo a retomada dos anos 80 por parte do SESC, o Ultraje a Rigor foi a banda convidada a abrir o mês de julho dedicado ao Rock Nacional. Com duas apresentações agendadas pra os dias 1 e 2, o grupo paulistano tocou todo  o repertório de seus dois primeiros discos, cabendo a estreia o deleite da execução de Nós Vamos Invadir Sua Praia, um clássico de 1985.

É bem verdade que somente Roger, vocalista, guitarrista, letrista e frontman, se mantém da formação original da banda, mas nada impede que os novos integrantes do grupo o façam com competência. Na condução do contra-baixo, nada menos que Mingau, que já tocou com meio mundo do underground paulistano, Marcos Kleine, na guitarra,  Bacalhau, na bateria, e mais Ricardinho, backing vocal.

Sem maiores rodeios a banda subiu ao palco invadindo a praia e ganhando a plateia com a faixa-título. Praticamente sem pausa entre as músicas, fora um ou outro probleminha técnico, o Ultraje desfilou os hits do álbum de estreia, que mais parece um hit-single, acompanhado em uníssono pelo público.

Ouvir Nós Vamos Invadir Sua Praia é mais que um processo de nostalgia. É voltar num tempo em que as coisas aconteciam numa efervescência alucinante. Havia muita gente nova fazendo música e um público ávido por novidades, cansado da pasmaceira dos padrões das FMs. Era a consolidação de um gênero musical, o tal do Rock Brasil. Tudo bem, você vai dizer que desde os irmãos Tony e Celly Campello, década de 50, se faz rock no Brasil, ok? Mas, digamos que, como movimento cultural, algo que a própria indústria fonográfica apostasse, só aconteceu mesmo depois de Você Não Soube Me Amar, da Blitz, em 1982. E foi, indiscutivelmente, esta geração quem o catapultou a números significativos. Foi quem permitiu investir em tecnologia para estúdios de gravação, foi quem obrigou as rádios a abrirem espaço na programação independente de refrões, palavrões e até de tempo de duração das músicas. Foi esta geração quem colocou o Brasil no circuito mundial de shows, vide o primeiro Rock in Rio. 

À época do lançamento deste primeiro álbum do Ultraje vivia-se o processo de redemocratização e, não por acaso, Inútil virou o hino do movimento Diretas Já! Não é exagero dizer que ele era uma resposta paulista – sem qualquer preconceito, ok? –, ao rock carioca que tomava conta das rádios. Blitz, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Léo Jaime, Lulu Santos, e outros, todos da Cidade Maravilhosa, embalados pela new wave. Já Nós Vamos Invadir Sua Praia tem uma pegada pós-punk. Embora recheadas de humor, as letras de Roger tinham acidez e críticas num tom típico de quem não vê o mar ao acordar, o autêntico paulistano. Provavelmente vem daí a ideia de invadir a praia.

Feitas estas considerações, retornemos ao show. Nos mesmos moldes do Projeto Álbum, do qual já participaram Os Paralamas do Sucesso, a ordem das músicas seguiu a mesma do Lp, com direito a “agora vira o disco”, proferido por Roger. Basicamente apenas Você Sabia não era exatamente de domínio público, como frisou o vocalista. As outras canções reverberavam no ambiente aconchegante da Chopperia do SESC. Destaques para Nós Vamos Invadir Sua Praia, Rebelde Sem Causa, Zoraide, Ciúme, Inútil e Independente Futebol Clube. De repente me vi num comício de 1º de maio, em 1986 acho, em Osasco, quando o mesmo Roger sacudiu o público com todas estas preciosidades, em frente a estação de trem. Ou até mesmo na sala da casa da Marisa ouvindo-o na “vitrolinha”, quando estava engatinhando neste mundo rock and roll, mas ainda sem tanta convicção.

Depois de encerrado o álbum, com a temperatura ainda nas alturas, tocaram Nada a Declarar, Long Tall Sally (Beatles, com Ricardinho nos vocais), Chiclete, Blitzkrieg Bop (Ramones, com direito a esquecer a letra) e Paranoid (Black Sabbath).

Arrebatador!
http://www.youtube.com/watch?v=3WuR_iWrZXA&feature=related


segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 1

Eis que após assistir a maravilha cinematográfica de Meia Noite em Paris, de Woody Allen, que lida com o conflito entre a nostalgia de um tempo há muito distante e o singular presente, fui brindado por shows memoráveis que celebraram, claro, o passado. Primeiro foram Os Paralamas do Sucesso que revitalizaram o conceitual álbum Selvagem?, com seis apresentações no SESC Belezinho, dentro do projeto Álbum. A mim, coube o privilégio de acompanhar duas destas noites. Estrategicamente escolhi a primeira e a última.

Logo na entrada um suvenir maravilhoso no formato de um compacto de vinil, ressaltando a ideia do projeto em resgatar a memória da música brasileira através de discos influentes. O jornalista Jotabê Medeiros, O Estado de S. Paulo, escreveu a respeito da importância deste terceiro álbum na carreira do grupo e no próprio cenário pop/rock nacional, além de outro texto do baterista João Barone sobre a necessidade da banda em alçar novos voos e mostrar sua verdadeira identidade. Indubitavelmente com este Selvagem? Os Paralamas do Sucesso demarcaram seu território, muito além dos rótulos.

A noite começou muito bem com o riff cavalar da faixa-título – com direito a Polícia, dos amigos Titãs –, e segue praticamente o mesmo running order do álbum. Os momentos altos ficaram por conta da já citada canção de abertura, A Novidade, Melô do Marinheiro/Marujo Dub, Você e Alagados que abre o disco, mas propositadamente foi deixada por último para sacudir a galera. Não há quem a resista.

Todo este disco tem cerca de 40 minutos de duração, logo, a banda começou a desfilar uma enxurrada de hits inundando nossa mente com velhas e caras lembranças. Essa, digamos, segunda parte do show começou com o peso do Calibre, àquela que marcou a retomada da carreira do conjunto após o fatídico acidente sofrido pelo guitarrista Hebert Vianna. Em meio à sofisticação do som do grupo, esta veio no mais puro baixo, guitarra e bateria. O Beco me remeteu ao longínquo 1989, quando os vi pela primeira vez. Aliás, este foi o meu primeiro show de rock, findando a turnê do quarto disco, o Bora–Bora. Meu Erro garante mais um momento de euforia e agito na pista, seguido por um momento pra curtir a dois com as belas Lanterna dos Afogados, Caleidoscópio e La Bella Luna.

Mas brasileiro gosta mesmo é de festa, então tome Lourinha Bombril, que não sou muito fã, não, mas na pista funciona que é uma beleza, e Uma Brasileira pra encerrar o set.

Muito bem acompanhados pelos músicos João Fera, teclados, Bidu Cordeiro e Monteiro Jr, nos sopros, James Muller na percussão e o grande produtor da pérola Selvagem? Liminha, na guitarra, o trio João Barone, Bi Ribeiro e Hebert Vianna volta para um bis retumbante: o duo Sonífera Ilha e Ska e no encerramento a primeira canção do grupo: Vital e Sua Moto.

Triunfante!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Que bom que existe um Woody Allen

“Aqui, Joven Pan Paris, às margens do Sena, junto a Maison de la Radio, clima agradável, com os termômetros marcando 20 graus,”, assim se apresentava o saudoso jornalista, Reali Júnior falecido em 9 de abril, correspondente, entre outros, da referida rádio paulistana, no Jornal da Manhã. Aquele jornal famoso por informar as horas “Agora 6 horas e 30 minutos”, ao qual uma voz dizia: “Repita”, “seis e meia”. Quem nunca o escutou? 

Eis que assim Reali sempre alimentou ainda mais a minha vontade de conhecer a Cidade Luz. Mais até que filmes e a literatura. Mais que o futebol esplendoroso de Zidane e Platini, este bordão me instiga e continua povoando minha imaginação. Aproveito pra opinar que, ao lado de Buenos Aires, Paris tem o nome mais bonito já atribuído a uma cidade.

Agora falando do filme Meia Noite em Paris, Woody Allen acertou em cheio ao levantar o eterno conflito de que o passado é melhor que o presente, ao menos pra muita gente. Eu, provavelmente, sou uma dessas pessoas que enxergam mais qualidade em muitos aspectos. Por vezes sou saudosista, até nostálgico, mas, na medida do possível, sempre pronto a olhar pra frente, mesmo quando a inércia é lisérgica, a preguiça é retumbante ou as perspectivas não são as mais favoráveis.

Inteligentemente Allen brinca com mundos paralelos e coloca o escritor Gil, interpretado por Owen Wilson, na sua chamada “Era de Ouro”, que é quando cada um considera sua época favorita, no caso, a Paris dos anos 20. Antes disso, Gil tem de lidar com o fato de ser um bem sucedido roteirista de Hollywood, mas frustrado pela qualidade de seu trabalho, que classifica como superficial. Por conta disso está escrevendo um romance e acredita que a Cidade Luz é a inspiração ideal para finalizá-lo. Além da questão profissional tem uma noiva (Rachel McAdams) no melhor estilo patricinha fútil, os sogros, que não o veem com bons olhos, bem como um casal de amigos da noiva, cujo homem é um ex-professor dela e de uma arrogância ímpar.

Uma vez em seu mundo de sonhos Gil encontra com seus heróis, os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, além do músico Cole Porter, do pintor Pablo Picasso e do cineasta Luis Buñuel. Mas é por Adriana (Marion Cottilard), amante e musa inspiradora de Picasso, que Gil sente seus maiores conflitos internos, tamanha sua beleza e carisma. Ele está prestes a se casar, mas se vê apaixonado por esta nova e sublime mulher.

Allen mostra o quanto é inquietante e até perturbador esta necessidade de (re) viver o passado. Esta busca incessante, põe Gil a refletir, sobretudo, por seus amores. Existe um amor no passado que, talvez, seja melhor deixá-lo por lá, guardado como uma incrível lembrança. Não necessariamente que tenha que ser resgatado, mas que ele possa servir de combustível a novas conquistas, uma vez que seu tempo passou, ficou em algum lugar e não é preciso debruçar-se sobre ele o tempo todo.     

A busca pelo novo pode ser tão gratificante quanto um flashback. Entender que o que o cerca é a oportunidade de fazer acontecer, de se reinventar. E se não acontecer exatamente como planejado, tenta-se, porque não, uma terceira via. Gil capta as nuances e sutilezas impetradas pelo destino e busca se encontrar.

Tudo muito bem conduzido por um Woody Allen revigorado e que consegue fazer de Paris a sua tão querida e bem retratada Nova York. Há diálogos deliciosamente divertidos, sem ser pueris. O humor típico do autor, sem exageros, mas que garante ao espectador ótimas risadas.


terça-feira, 21 de junho de 2011

Os deuses do futebol estão com a gente!

Eu, como a maioria – para não dizer a totalidade – dos torcedores, tenho um lado todo supersticioso para os jogos do SANTOS. Pois bem, não é que esta final da Libertadores é uma ótima oportunidade para realçar inúmeras coincidências e curiosidades?

Comecemos pela feliz conspiração do destino que propícia ao SANTOS FC fazer sua 100a partida na competição justamente numa final. Quantas equipes no mundo, em qualquer competição importante, tem este privilégio? Coisas que só o nosso ALVINEGRO pode ter.

Esta é a nossa Libertadores de número 11, ou seja, o mesmo número da camisa de nossa principal estrela: NEYMAR. Quer mais? Assim como naquela ocasião, a da primeira conquista em 1962, nessa final haverá o retorno de nosso CAMISA 10 (que na VILA não é número é instituição), Paulo Henrique GANSO, como retornou PELÉ, no terceiro duelo, em Buenos Aires. O REI simplesmente destruiu o rival, anotando dois gols.

Nossa primeira conquista, foi justamente contra este time uruguaio, em 1962, quando éramos a base da seleção brasileira de futebol, como agora. Na seleção campeã do mundo Gilmar, Mauro, Zito, Coutinho, Pelé, Pepe e Mengálvio, faziam parte do escrete canarinho. Agora temos NEYMAR, GANSO e ELANO. Por que não dizer, ROBINHO?

Para arrematar, jogaremos no Pacaembu onde alcançamos todos os resultados que precisávamos no torneio, mesmo naquele empate que tivemos contra o Once Caldas. E se pra você ainda não está bom, basta lembrar que o jogo que nos colocou nas fases de mata-mata da Libertadores, contra o Deportivo Táchira, aconteceu também na véspera de um feriadão prolongado, como este.

Enfim, agora só preciso colocar a minha camisa branca, a especial usada na Libertadores, que comprei na véspera da partida contra o Colo-Colo na Vila Belmiro (quando mentalizei EU AINDA ACREDITO), me barbear e ir pro estádio com meu amigo Bodão.

BORA LÁ, SER TRI SANTOS!!!


sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Fofoca Mora ao Lado

Quem nunca fez um comentariozinho, maldoso ou não, sobre a vida dos outros? Quem nunca deu uma espiadinha na vida alheia? Pois é, a fofoca é algo que o ser humano faz desde os primórdios. Uns até a usam como modo de ganhar a vida. Bem, a gosto, ou mau gosto, pra tudo, não é?

Mas você já deve estar se perguntando por que estou falando em fofoca. Ok, ok, eu explico: o que me leva a falar sobre o assunto é o espetáculo encenado por Paulo Moraes, no Teatro Plínio Marcos, que seguirá em cartaz todos os sábados, até o final do mês de julho.

Quem me conhece sabe que nunca fui fã de teatro. Até então, todas as minhas experiências com a dramaturgia em palco se restringiam a textos co-relacionados ao trabalho da minha banda preferida: a Legião Urbana. Assim, assisti, duas vezes, a Um Certo Faroeste Caboclo, naturalmente baseada na música homônima. Depois um espetáculo incrível batizado de Revolução Urbana. Aí alicerçada em quase toda a obra da banda. E por último, também a assisti por duas vezes, um espetáculo baseado na vida de Renato Russo, em que cheguei às lágrimas, muito próximo do especial televiso Por Toda Minha Vida, da Rede Globo.

Desculpe-me, mas achei necessário fazer este adendo a minha motivação em ir ao teatro. Além do que, estamos entrando (a sensação térmica já é) no inverno (21/06) e este tipo de entretenimento é ótimo, pois é um ambiente fechado e aconchegante.

Voltando ao que interessa, a peça A Fofoca Mora ao Lado, Paulo Moraes desenvolve um texto irreverente e com boas sacadas para Abigail: uma simpática senhora que passa o dia cuidando da vida dos outros, é claro. Naturalmente, não vou citar nomes, mas na minha rua tem algumas senhoras muito parecidas. Sabe àquelas que comentam sobre a filha de fulano e de repente a filha dela mesma aparece grávida?  Aposto que na sua rua também tem uma ou mais destas, não é? No caso de A Fofoca... Abigail pega mais leve, até porque não teve filhos, no máximo, deixa queimar o feijão.

Apesar de ser um monólogo Abigail interage muito bem com o público, chegando mesmo a, digamos, contracenar com ele, propiciando situações interessantes. Bom também perceber que o autor não deixa de fazer algumas críticas contra políticos contemporâneos ou aspectos sociais, sendo àquelas feita ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e à gente diferenciada de Higienóplois, as mais engraçadas. Imagino que neste âmbito não faltem motivos para improvisar em cena. É sempre uma liberação de verbas pra Copa do Mundo aqui, uma reprimenda a bombeiros ali, e por aí vai.

Enfim, em tempos tão tenebrosos rir ainda é a melhor opção. Ir ao teatro, por si só já é, ao menos para a maioria, sair da rotina do cotidiano, o que é sempre bem vindo. Por estas e por outras A Fofoca Mora ao Lado vale uma conferida.

A Fofoca Mora ao Lado, de Paulo Moraes, em cartaz no Teatro Plínio Marcos, aos sábados a partir das 20h30, até 30 de Julho.
Direção: Lineu Carlos Constantino e Evelyn Erika
Com Paulo Moraes.
Rua Clélia 33, Shopping Pompéia Nobre, ao lado do SESC.