Por ocasião do Dia dos Pais postarei um texto que escrevi, para a mesma ocasião em 2005, quando era colunista do jornal Correio da Região.
Depois de dois longos anos de espera – a última apresentação havia acontecido em 19 de julho de 1988, no terceiro aniversário da revista Bizz –, finalmente a Legião Urbana voltava à capital paulistana. “São Paulo sempre recebeu a Legião super bem”, declarava o guitarrista Dado Villa-Lobos, durante a passagem de som.
Com o estrondoso sucesso do álbum As Quatro Estações – nada menos do que seis canções eram hits até aquele momento –, a organização ousou e marcou duas apresentações para o Palestra Itália, estádio do Palmeiras. Além do sucesso radiofônico, havia o respaldo da apresentação carioca no Jockey Club Arena, presenciado por mais de 50 mil pessoas. Na ocasião, além da própria banda, havia a comoção da morte de Cazuza, no mesmo 7 de julho. Naturalmente, o cantor foi homenageado e reverenciado por Renato Russo como se estivesse na plateia.
Por uma feliz coincidência, as datas paulistanas coincidiram com o fim de semana do Dia dos Pais, 11 e 12 de agosto. Mais um motivo para tornar o evento especial. No sábado as filas começaram as 6h00 – o show estava marcado para as 21h30 -, demonstrando a mítica de uma banda que nasceu para ser diferente. Uma carga de ingressos falsos provocou superlotação do estádio, obrigando a banda a subir ao palco com uma hora de atraso. Segundo números da Polícia Militar de São Paulo, cerca de 100 mil pessoas compareceram aos shows. As filas tomavam todo o quarteirão formado pelas avenidas Pompéia, Antártica e Francisco Matarazzo e ainda as ruas Turiassu e Padre Antonio Tomaz, que contornam o estádio.
Na cidade-trabalho nada mais apropriado do que começar a apresentação com Fábrica, a partir dali foram duas horas de cumplicidade entre banda e público. Embora Renato não gostasse desse tipo de tratamento, era impossível se referir a uma apresentação da Legião como mais um show. Primeiro, porque eles eram raros, depois o próprio Renato fazia questão de se dirigir ao público como a um amigo. Alguém que você confidencia segredos, compartilha coisas boas e também as ruins, enfim, dá sem esperar nada em troca, a não ser carinho e atenção – inclusive subiu ao palco com um buquê de flores à plateia.
Quanto ao Set List, quase perfeito. Seguindo basicamente o roteiro de toda a turnê, a diferença entre as duas noites ficou por conta de Faroeste Caboclo apresentada apenas no domingo. Mas como não sentir a falta de Andréa Dória, Sete Cidades, Acrilic On Canvas, Baader... No palco a banda estava reforçada pelos músicos Bruno Araújo (contra-baixo), Fred Nascimento (Violão) e Mu (Teclados). Além do belo tratamento na iluminação de Maneco Quinderé, renomado profissional do teatro.
O repertório apresentou todas as músicas de As Quatro Estações e boa parte dos Lps anteriores, isso mesmo LPs, coisa que os mais jovens nem conhecem, além das habituais incidentais. Assim eram tocadas Pais e Filhos/Stand by Me, Maurício/She Loves You, Ainda é Cedo/Like a Prayer/Gimme Shelter/Pretty Vacant, Soldados/Faz Parte do Meu Show/ Clareia/ Help. A Legião ia do lirismo de Monte Castelo ao heavy metal de Feedback Song For A Dying Friend causando a mesma reação na platéia. No show de domingo, durante a execução de Soldados, um dos momentos mais marcantes das duas noites foi quando Renato homenageava ícones da cultura pop, reverenciando-os “Salve Jim Morrison; Salve Raul Seixas; Salve Cazuza; Salve John Lennon ...", num breve espaço em que o cantor foi recuperar o fôlego, de forma espontânea, a plateia emendou "Salve Legião. Salve Legião", emocionando o vocalista.
O que mais importava à banda naquelas duas noites era que tudo corresse bem. Sem a famosa garrafa de Velho Barreiro, do Ibirapuera. Sem as bombas e a violência desenfreada dos moleques de Brasília. Sem a areia atirada ao palco por alguns animais da Cidade Maravilhosa na pista do Jockey. O público entendeu e nem mesmo o desconforto causado pela enorme derrama de ingressos falsos do sábado, foram capazes de macular os shows realizados num estádio acostumado a grandes espetáculos. Por lá já tocaram Iron Maiden, David Bowie, Metallica, Rod Stewart e outros. Nada, no entanto, será igual a este Dia dos Pais.
Como numa verdadeira celebração, ao final das duas apresentações uma grande queima de fogos abrilhantava a noite da Zona Oeste de São Paulo. Seis poderosos canhões de luzes foram direcionados para os prédios vizinhos, que estavam repletos, como se suas casas fossem uma extensão do estádio. Era a minha primeira apresentação da Legião Urbana, algo que aguardava com extrema ansiedade, mas que foi devidamente recompensada por um espetáculo primoroso.
Quem teve o privilégio de acompanhar in loco estas apresentações puderam reacender ainda mais a memória, quando do lançamento de As Quatro Estações – Ao Vivo (ah, como isso merecia um DVD!). Para aqueles menos afortunados, é possível ter uma pequena dimensão do que era a banda Legião Urbana ao vivo. É apenas uma noção, porque saber mesmo, só quem viu.
Feliz Dia dos Pais.
Eu fui ao show do dia 12. Recordo como se fosse hoje. Fui com meu pai, e não porque ele era do tipo "você é moleque e não vai num show de maconheiros". Pelo contrário, ele incentivou-me a ir mesmo sem conhecer tanto a banda, e complementou: "essa bichona tem mais culhão que muito homem por ai". Lembro de cada segundo, do lugar onde sentamos... Lembro da frase "aos pais de hoje e de sempre"... Lembro de meu pai "adoro essa música... é Angra dos Reis"... Nem fatídico ultimo show da Legião em Santos ou o televisivo Metropolitan no RJ superam o show no Parque Antártica.
ResponderExcluirNão sei porque não sai meu nome no comentário...
ResponderExcluirJorge Lins. kuarup@gmail.com