terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aprendendo uma lição...

Agora, com a cabeça um pouco mais fria, eu disse só um pouco mais fria, posso escrever sobre o que era pra ser um jogo de futebol, mas não foi. Pois jogos de futebol necessitam de duas equipes, enquanto que no domingo apenas o Barcelona entrou em campo. O Santos, bem... O Santos já entrou derrotado. Primeiro, ao abrir mão de jogar. Tendo em seu elenco jogadores como Neymar, PH Ganso, Elano, Arouca e um goleador como Borges, o time não poderia apenas esperar seu adversário. Segundo, ao respeitar demais os espanhóis. O Alvinegro foi tão respeitoso que, mesmo com apenas 29% de posse de bola, fez o mesmo número de faltas que seu adversário, 13. O Barcelona, que é maravilhoso, não tem o menor pudor em parar o jogo. Basta ver o que aconteceu com Mascherano. Em seu primeiro lance, levou cartão amarelo.

Muricy Ramalho, que foi tão bem no primeiro semestre, conquistando a Libertadores da América e o Paulistão, meteu os pés pelas mãos neste mundial. O paliativo encontrado no 3-5-2 para a partida final só poderia dar certo se o Léo estivesse em plena forma física, o que, visivelmente, não era o caso. Além de Henrique, que assim como Íbson ainda não justificou sua contratação, estar tinindo. Logo, Elano, mesmo em seu interminável inferno-astral, era melhor opção pra começar jogando. Sim, porque se o diferencial do Barcelona é o toque de bola aliado à movimentação, quanto mais gente qualificada você tiver pra tentar roubar essa bola sem desfazer-se dela na sequência, melhor. O único jogador de dribles no time espanhol é o Messi, os demais tem a precisão no passe, o que não é pouca coisa, mas que a marcação junto e saídas rápidas podem amenizá-las.  

Outro erro de estratégia foi a preparação antes do Mundial. Muito antes dos jogos no Japão eu imaginava que o único jogador que deveria ser poupado era Neymar, que não teve férias e, sozinho, jogou mais do que alguns times do Brasil. O menino ter chegado ao fim da temporada sem nenhuma contusão é pra erguermos as mãos pro céu e agradecermos de joelhos. Das últimas quatro partidas do Santos no Brasileirão, três foram realizadas no estado de São Paulo. Uma no Pacaembu, uma na Vila Belmiro e outra, logo ali, em Mogi-Mirim. Nesse ínterim, houve uma viagem a Curitiba, que não é tão desgastante assim. O time titular poderia jogar numa boa. Nestas quatro últimas partidas podia-se, no mínimo, testar alternativas pra enfrentar a equipe espanhola. 

Ainda sobre o Muricy, o que me intrigou por demais foi a sua apatia ante o desenrolar da partida. Nosso treinador não levantou para orientar, sequer xingar, ou mesmo mostrar que estava ali.  Assistiu a tudo como que dissesse “não há o que fazer”. Essa “indiferença” passou pro campo. Quem não estava em estado lisérgico, parecia atônito. Em linhas gerais, o time do Santos não entrou com a “faca entre os dentes”, nem o “sangue nos olhos”, e isso fez toda a diferença. E por que cargas d´água ele tirou o Borges pra colocar o Kardec? Ora, o meio de campo já estava perdido, então colocasse no lugar do Henrique, ou Durval, recuando o Henrique, que já atuou como zagueiro no Cruzeiro. 

Quanto a erros individuais, dois deles de Durval, foram fatais. O zagueiro sentiu demais a responsabilidade do jogo e ele não assimilou bem a necessidade de reforçar o seu lado na marcação. Diga-se de passagem, nenhum de nossos zagueiros é unanimidade, ainda mais expostos, como por vezes ficaram, diante de Messi e cia.       

E o que falar da apatia, a mesma do Muricy, de PH Ganso? Craque, gênio, maestro e quantos mais adjetivos couberem a um camisa 10. Se em 2010 e em alguns jogos decisivos deste ano o garoto mostrou futebol encantador, domingo ele foi medíocre. Tão medíocre quanto tantos outros que assolam nosso futebol. Apesar de dois passes, sua displicência foi irritante. PH Ganso era o que parecia mais deslumbrado diante do rival. Tanto assim, que o cartão amarelo que recebeu foi ele mesmo quem se acusou. Fez a falta e imediatamente pediu desculpas. Oras, desculpas? Aquilo era uma competição, jogo que valia a taça de campeão do Mundo... E se tinha alguém com mais interesse em se valorizar no mundial, era justamente ele, que tem que remar tudo de novo para voltar ao topo. Mas claro, isso passa pela sua cabeça que tem que ser melhor trabalhada, pois o Ganso, e não o Peixe, está morrendo pela boca. Uma conversa séria tem que ocorrer entre o meia e a diretoria. Ou ele está no Santos, de corpo e alma, ou arruma alguém que pague o valor integral de sua multa. O torcedor ainda o respeita, mas já não o tem mais como ídolo pelo simples fato de saber que hoje ele é do Santos, mas amanhã... Nos reconquistar depende única e exclusivamente dele.

Neymar também não brilhou, perdeu um gol que num dia normal não perderia, mas mostrou alguma vontade, mostrou brio e ainda deu uma entrevista absolutamente madura e precisa. Estava consternado, olhos marejados, como o torcedor santista estava. Por isso é ídolo. Não por acaso, o respeito dos jogadores catalães a ele não se abalou. 

No mais, Rafael mostrou ser um goleiro confiável, não teve qualquer responsabilidade nos gols e ainda pegou o que podia. Borges, coitado. Recebeu apenas uma bola em condições ideais de finalização, a outra estava pressionado. Arouca, isolado no meio, tentou em vão. Não por sua culpa, mas da distância que existia entre os jogadores do Santos. Olhando à primeira vista, parecia que o Barcelona tinha mais jogadores em campo, mas não tinha. O bonito em seu futebol é que quem passa a bola, não fica estático, busca um espaço, dá opção de passe, por isso pouco erram neste fundamento. A maioria dos passes são curtos, daí tamanha posse de bola.  

Mas enfim, ao contrário de muito do que já foi dito, muito oportunismo inclusive, este Santos é um dos melhores times, senão o melhor, do Brasil. Não se ganha um Paulista e uma Libertadores, simultaneamente, sem qualidades. Muricy não passou de bestial a besta por este jogo. Ele fez um erro de avaliação. Certamente aprenderá com isso e melhorará, pois conhece seu ofício. Não é porque perdeu para o Barcelona que tudo está errado. Em hipótese alguma  deve-se promover uma caça às bruxas, mas a maturidade tem que vir daí, de uma derrota retumbante como esta.

O Santos tem em Neymar e PH Ganso a própria lição de que uma derrota, se bem assimilada, só engrandece. A primeira decisão que estes meninos enfrentaram, saíram derrotados. Porém, apenas dois anos depois eles já conquistaram a América, ganharam a Copa do Brasil e mostraram a supremacia no Estado, inclusive, vingando-se daquela primeira derrota, alcançando o bicampeonato. Some-se a isso o fato do camisa 11 santista virar um ídolo nacional, que só a inveja alheia, nosso eterno complexo de vira-lata, não consegue enxergar. Aliás, estas pessoas estavam apenas esperando esta derrota pra dizer que o garoto é uma fraude, um produto da mídia. Falam até em falta de humildade. Quer maior exercício de soberba que julgar a quem você não conhece? 

Aqui entre nós, esta derrota diz muito do futebol que se pratica hoje no Brasil, inclusive. Desde os treinadores e jogadores, passando pela imprensa e os torcedores. É só olhar os prêmios do Campeonato Brasileiro na Bola de Ouro da Placar/ESPN e o Troféu Armando Nogueira (Sportv): por que diabos a seleção do campeonato tem que ter dois volantes? 

Além do desabafo deste torcedor, cabe aqui muita reflexão.