quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ao mestre com carinho II

Em 21 de abril de 2006 o Brasil perdia um de seus maiores treinadores de todos os tempos: Telê Santana.  Sem dúvida alguma ele merecia o título de mestre ou de professor. O motivo para tanto não requer respostas mirabolantes, muito pelo contrário. O Fio de Esperança – como ficou conhecido pela sua magreza e gols no último instante, quando ainda era jogador – era acima da média porque não inventava. Futebol para ele era simples, o trivial.

No comando da Seleção Brasileira da Copa de 1982, Telê encantou o mundo com um futebol vistoso e ofensivo. Não ganhou é verdade, mas deixou sua marca em todos que a acompanharam. Longe, muito longe da mediocridade da seleçãozinha do Dunga com volantes brucutus, que primeiro desarmam, e depois... Seus volantes eram Cerezo e Falcão. Está bom pra você? Seu trabalho foi de tão grande valor que quatro anos depois, lá estava ele novamente em ação – é o único treinador do Brasil a comandar a equipe por duas Copas seguidas mesmo depois de derrota. Naquela oportunidade, no entanto, não fomos brilhantes e perdemos para os franceses em decisão por pênaltis. Depois de termos realizado nossa melhor partida.

Por conta destas duas derrotas, em especial, a ele foi atribuído à pecha de pé-frio. Algo tipicamente absurdo e digno de um país sem memória, pois Telê, à frente do Galo mineiro e do Grêmio, por exemplo, acabou com a hegemonia do Cruzeiro, em 1970, e do Internacional, em 1977, em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, respectivamente. Além disso, ganhou o, antes, primeiro Campeonato Brasileiro em 1971 com o mesmo Atlético. Isso, pra não dizer que é o único treinador campeão estadual em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.

Felizmente havia um time disposto a dar continuidade ao seu trabalho mesmo depois da perda de um título importante. O São Paulo, derrotado pelo Corinthians na decisão do Brasileirão de 1990, apostou em Telê e não se arrependeu. E o futebol, claro, agradeceu. Como em 1991 o Nacional foi disputado ainda no primeiro semestre, seu time veio embalado e conquistou o caneco. Foi o start de um time extremamente vencedor e com a cara do Mestre.

Telê tinha seu próprio estilo e era um ferrenho defensor do futebol arte. Nunca, eu pelo menos não me lembro, de ouvi-lo dizer que jogaria no erro do adversário. Seu time, quase sempre, tomava a iniciativa do jogo, por isso tamanho sucesso, principalmente, no tricolor paulista. Foram cinco anos de glórias e títulos de 1990 a 1995. Foram três bicampeonatos: Libertadores e Mundial (1992-93), além dos Paulistas (1991-92). Somadas  outras quatro conquistas na América e torneios europeus, além, claro, do Brasileirão 91.

Ele não marcou apenas como treinador. Quase todos que tiveram o privilégio de trabalhar ao seu lado não escondem sua admiração e carinho. São quase unânimes em chamá-lo de pai. Preocupava-se, especialmente, em como os garotos gastavam seu dinheiro. Procurava orientá-los da melhor maneira. Muitos o ouviram, outros nem tanto. Bem, ele fazia sua parte ou, se você preferir, mais do que lhe cabia.   

Para ele, um obstinado pela perfeição, o jogador tinha a obrigação de dominar os fundamentos. Passes, cruzamentos e arremates eram treinados à exaustão. Não se cansava de cobrar, fosse quem fosse.

Mais do que o talento para com o futebol é importante ressaltar seu caráter. Telê foi daqueles profissionais acima de qualquer suspeita. Não por acaso, era querido por todas as torcidas. Não poupava críticas ao amadorismo dos dirigentes. Nem mesmo os de seu clube. E o melhor de tudo: nunca mandou bater. Ganhando ou perdendo, mas jogando limpo. Assim foi Telê Santana. Um exemplo de treinador e, sobretudo, de homem. O que convenhamos, num país como este, não é pouca coisa. Que ele esteja em paz.

To Sir with love!!!
http://www.youtube.com/watch?v=zZxvYy5-ekI
                                               

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