Dia desses André Plihal, ESPN Brasil, escreveu em seu blog, no site da emissora, “Pra mim não existem bons e maus profissionais. Há profissionais e não-profissionais”- traçando um paralelo entre as coisas do nosso futebol e o show do U2. Pois bem, assim funciona para taxistas e garçons (como cita o repórter), mas também para médicos, advogados, engenheiros, professores, policiais, bancários e, claro, jornalistas. Sim, muito embora esta última categoria seja o chamado quarto poder, não está imune a mediocridade dos maus profissionais. Isso para não falar da falta de caráter, que é ainda mais preocupante. A imprensa não está acima do bem e do mal.
E por que estou escrevendo sobre isso? Porque estou enojado com o comportamento vil de parte dos meus colegas de profissão com relação as notícias vinculadas a Paulo Henrique Ganso. Em tempo de velocidade na informação, parece que nem todos se preocupam com a apuração. Manchetes em letras garrafais não se justificam já nas primeiras linhas de qualquer texto.
Ontem, no entanto, o Lancenet extrapolou todas as possibilidades da tolerância. Curiosamente, o site soltou a notícia no início da madrugada: Ganso diz “sim” ao Corinthians... Assim, claro, todos correram a ler a matéria e, pasmem, não há uma palavra atribuída ao meia. Como assim? Se o atleta aceitou a proposta, a palavra dele, no mínimo, deveria estar na matéria. Não Está. Porque não há.
Seguindo o mesmo caminho de manchetes espetaculosas o site da ESPN Brasil publicou na segunda-feira a manchete Ganso reclama de tentativa de renovação no vestiário, isso baseado nas palavras do atleta após o jogo contra o Americana, entrevistado pelo repórter do Sportv. Lendo a matéria, não há qualquer reclamação do jogador. Neste caso, ao menos, tem as falas do meia. Certamente envergonhado com o erro, até porque houve reprimendas, todas sensatas, de vários assinantes, foi feita a correção do título que passou a ser Ganso diz que Santos tentou renovação no dia do jogo com Colo Colo. Também a rádio Jovem Pan aderiu à moda: Ganso reclama de pressão para renovação com Santos. Junto a matéria tem um áudio do jogador e, óbvio, você imagina que ele dirá isso. Não diz, fala sobre o encontro com o Ronaldo.
Aliás, um parêntese sobre o empresário Ronaldo (dono da 9ine). Tem sido conturbada a sua nova empreitada de gerenciar a imagem de atletas. Pegou mal a condução no caso da contratação de Adriano pelo Corinthians, absolutamente ignorando Gilmar Rinaldi, então agente do jogador. Agora esta polêmica com o Ganso. Alguém pode explicar o que fazia Andrés Sanches (presidente do Corinthians) na reunião entre Ganso e Ronaldo? A ética, se é que isso existe em certos setores da sociedade, recomendaria que jamais numa reunião entre um jogador de um clube X, com um empresário de uma empresa Y pudesse ter a presença de qualquer dirigente de um terceiro clube, supostamente, interessado. Ainda mais se levarmos em conta que tal empresário ainda tem vínculos comerciais com o time deste dirigente. Logo, Ronaldo está se achando como alguns da imprensa, acima do bem e do mal.
Quem me conhece sabe o quanto eu sou torcedor do Santos e pra mim não existe a expressão é só futebol. Mas não é por isso que estou indignado, antes que assim o digam, o que me preocupa e, sobretudo, entristece, é ver o circo e a falta de compromisso com a verdade, com o leitor, com o ouvinte e com o telespectador. Os chamados furos de reportagem estão virando furos n´água. Agindo assim, estão subestimando a inteligência do público, subjulgando-os como incapazes de terem discernimento e prestando um grande desserviço. O fato é que alguns veículos estão externando seus desejos, ou de seus editores, e não a informação, pura e simples.
Quanto a Paulo Henrique, o próprio atleta propíciou todo este clima ao dizer publicamente que estava insatisfeito com a diretoria do clube, "que não o estava lhe valorizando". Chamou pra si uma responsabilidade que não precisava. Tanto que amanhã, com as ausências de Neymar e Elano, terá que resolver o difícil jogo contra o Cerro Porteño. Da mesma forma que reclamou, agora deve vir a público e encerrar o assunto. Só ele é que pode fazer isso, uma vez que até seu irmão e os dirigentes da DIS (empresa que detêm parte de seus direitos) não estão falando a mesma língua.
Aos jornalistas, que tal uma pausa para reflexão? Já não bastam as mentiras do meio político, as desgraças do cotidiano, as intolerâncias raciais, religiosas, sexuais e uma série de outros abusos?
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