quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quarta-feira de cinzas


Não resta dúvidas de que na noite de ontem o Sobrenatural de Almeida estava à solta, diria o saudoso Nelson Rodrigues. Ele transitou, sobretudo, no Beira-Rio e na Arena do Jacaré. Pois todos, inclusive eu, davam como certas as classificações de Internacional e Cruzeiro. Além de meros palpites, tais prognósticos baseavam-se no simples fato de que ambas as equipes brasileiras são, ou eram, melhores que seus adversários, jogavam em casa e com vantagem. Porém, o futebol é realmente mágico e apaixonante por conta disso. Nem sempre o melhor vence, o imponderável apresenta-se sem avisar, até por isso é imponderável, e ser favorito, por vezes, não basta.

Desde a Copa do Mundo de 1950 falamos em favoritismos desmedidos e, invariavelmente, caímos do cavalo. Pra não recorrer tão longe na história e parecer um eterno saudosista basta uma olhada na história recente de nosso futebol. Ano passado o próprio Internacional fez o favor de ser eliminado pelo, prá lá de modesto, Mazembe, do Congo, no Mundial Interclubes da FIFA. Enquanto que este ano foi o Corinthians quem derrubou a “lógica” ao ser eliminado ainda na fase pré-Libertadores, pelo, indubitavelmente mais modesto, Tolima. Neste caso, há o agravante de terem sido realizadas duas partidas em que o time paulista não conseguiu sequer fazer um único gol.

Em Minas o Cruzeiro, melhor time da primeira fase, podia perder por 1 a 0 ou até mesmo empatar por qualquer placar. Mas o que se viu em campo foi um time apático, completamente dominado pelo adversário e que não merecia outra sorte que não a desclassificação. Antes que alguém culpe o Roger, tolamente expulso, pelo fiasco cruzeirense, saiba que o placar de 2 a 0 foi pouco para o time colombiano.  No Sul, a camisa do Peñarol pesou, e muito. Não nos esqueçamos o momento atual do futebol uruguaio: o país foi semifinalista na última Copa do Mundo, ficando à frente da seleção canarinho, e está classificada, como o Brasil, para a próxima Olimpíada. Para um país do tamanho do Uruguai e que tem um êxodo de jogadores assustador, não é pouca coisa. 

Já os visitantes Fluminense e Grêmio tinham duros duelos e a situação dos gaúchos era, a bem da verdade, favas contadas. Bem, em noite de tão grandes “zebras”, ao menos alguma lógica o futebol tinha que preservar, não é? Assim o Grêmio, combalido e desfalcado, voltou a perder para o bom time da Universidad Católica. A derrota no Olímpico mostrou-se irreversível e, embora seja considerado imortal por seu torcedor, até o mais fanático gremista sabia que seria difícil. Quanto ao Fluminense, parece que o time de guerreiros gosta mesmo é de contrariar os matemáticos e causar taquicardia em seu torcedor tricolor. Pois, com uma vantagem relativamente cômoda, já que podia até perder, passou os primeiros 45 minutos no 0 a 0. Mas não é que na segunda etapa levou três gols e foi eliminado? Desta vez nem um escanteio no último lance foi capaz de provocar um golzinho que levaria à decisão por pênaltis.

Como ainda não havíamos tido um desempenho tão ruim em Libertadores, neste novo formato a partir de 2000, com apenas um representante nas quartas-de-final, podemos repensar um pouco a nossa alto-suficiência, como os melhores da América. Parte deste fracasso passa por certa soberba. Quem sabe até mesmo revermos nosso calendário, com tantos jogos desgastantes e inúteis, no primeiro semestre. Já deixo claro que não sou contra campeonatos estaduais, ao contrário. Mas racioná-los é preciso. Nenhum, absolutamente nenhum campeonato estadual, hoje, se justifica da maneira que são realizados. Vinte clubes em São Paulo, 16 no Rio de Janeiro, 16 no Rio Grande do Sul é um exagero sem fim.

Com tantas lições aplicadas em uma só noite já dá para imaginar a maneira como Muricy irá conduzir o time do Santos, único sobrevivente brasileiro do torneio continental, daqui por diante. Aliás, a classificação frente ao América, no México, demonstrou que não há jogos fáceis na Libertadores. Quando muitos disseram que a vitória do Alvinegro por 1 a 0, na Vila, foi pouco, o discurso já era de que o importante era vencer e não levar gols, pois na Libertadores a coisa é diferente.

O Santos não fez um carnaval na terça-feira, após a suada, porém justa classificação, mas que a quarta-feira de futebol foi de cinzas para o Brasil, ah isso foi.
                                                                  
                                                 
 http://www.youtube.com/watch?v=KwSvuq9qoKc&feature=related


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