Vinte e cinco anos é tempo à beça. Não por acaso, feitos com esta idade costumam ser bem comemorados. No casamento, por exemplo, comemora-se a bodas de prata. Eu acho significativo falar em um quarto de século.
Pois bem, mês passado completou 25 anos do lançamento do álbum Selvagem?, do grupo Os Paralamas do Sucesso. Em princípio, recebido com desconfiança, especialmente, pelos colegas de outras bandas do Rock Brasil. O disco vazou, em fita cassete, na Rádio Cidade do Rio de Janeiro, e já saiu causando polêmica. Uns amaram, elogiando a evolução musical, sobretudo a mistura rítmica, a temática social e letras maduras. Outros odiaram e as críticas, basicamente, vinham no clichê: cadê o rock? Até o próprio Hebert Vianna ligou pra rádio pra explicar a mudança em relação aos dois primeiros discos.
Importante ressaltar que Selvagem? é, antes de tudo, um disco corajoso. Afinal, a banda vinha de um disco super bem sucedido, O Passo do Lui (200 mil cópias vendidas), com nada menos que sete hits, incluindo, o mega-hit Óculos. Um disco pop/rock básico. A banda havia sido o nome brasileiro do primeiro Rock in Rio e seus shows percorreram o Brasil de um extremo ao outro. Seria mais cômodo repetir a fórmula, mas Os Paralamas preferiram ousar.
Muito contribuiu para a realização do disco, da maneira como foi concebido, o acidente automobilístico sofrido pelo baterista João Barone, obrigando a banda a uma parada forçada. Quando retomaram os trabalhos estavam ouvindo muita música africana, muito reggae, e, embora não admitam, eles sempre quiseram deixar a pecha de o The Police brasileiro. Convenhamos, esta sempre foi uma definição muito simplória para o som da banda.
De cara o disco abre com Alagados, quase uma lambada, com a genialidade do guitarrista Hebert Vianna à mostra. Bem, de maneira geral música de cinco minutos pra ser tocada em rádio é uma aberração, no entanto, tocou. Como tocou. A letra é uma crítica social violenta às nossas diferenças. Assim como A Novidade, em parceria com Gilberto Gil. Teerã, bem como A Dama e o Vagabundo são músicas experimentais.
O swing jamaicano do reggae permeia o disco. A já citada A Novidade, Você, O Homem e a bem humorada Melô do Marinheiro. There´s a Party, é cantada em inglês. A faixa-título Selvagem? tem uma fina ironia, pois questiona-se a falta de rock no disco. Porém, o riff de guitarra desta canção é incrivelmente rock and roll. Ao vivo então, é pesadíssimo. A letra segue a linha de Alagados e expõe cruelmente nossas diferenças, preconceitos, ausência do Estado e os demais desmandos.
Outra boa sacada da banda é a sua versão para Você, do grande Tim Maia. Hebert explicou desejar muito uma música de Tim em disco dos Paralamas. Pensando nas inúmeras possibilidades explicou que a escolheu porque nada pode ser mais definitivo do que dizer a alguém “você é algo assim / é tudo pra mim / é como eu sonhava, baby”, concordo plenamente.
Enfim, este álbum deu uma guinada na musicalidade da banda e acentuou a sua necessidade de experimentar. Bora-Bora, o disco seguinte, é até mais ritmado, pois já estavam completamente à vontade e respaldado pelo sucesso anterior. Eles apontaram novos rumos na produção de rock no Brasil, quebraram alguns preconceitos, permitindo novas ideias. Deixando de lado restrições por conta de estereótipos. A miscigenação musical é bem vinda desde que realizada por músicos competentes, e este é o caso.
Esta aí um dos meus discos de cabeceira, lançado há longínquos 25 anos. Aliás, o ano de 1986 foi pródigo para o Rock Brasil, pois também foram lançados Dois (Legião Urbana), Cabeça Dinossauro (Titãs), Vivendo e Não Aprendendo (Ira!), O Concreto Já Rachou (Plebe Rude), Capital Inicial (Capital Inicial), entre outros.
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