sábado, 30 de julho de 2011

Trilhas Sonoras de Amor Perdidas

Eu ainda tenho ao menos uma gaveta com fitas k7s no meu guarda-roupas e mais uma ou outra caixa de sapatos em algum outro lugar. Eu me amarrava em ficar montando meu próprio running order das canções que gravaria em uma fita. Exageradamente, ou não, eu tinha até o cuidado de somar o tempo das músicas para que nenhuma fosse interrompida pelo encerramento dos lados A e B. Complicação, diversão, distúrbio, ou qualquer coisa do gênero, eliminados pelas gravações em CDs. Adeus toca-fitas auto-reverse. Agora me preocupo se gravarei um disquinho com 80 minutos (wav, que é o formato dos CDs normais) ou se gravarei 10 horas em MP3. Se a opção for a última, tenho que separá-las em pastas referenciais, senão dará um trabalho danado achar uma canção em especial. Ainda sobre as tapes, a Basf 60 cromo era a clássica, como alternativa a melhor era a TDK, enquanto que como uma terceira opção, a VAT.

Em princípio fazia as fitas pra mim mesmo. Um parêntese aqui: talvez vocês não acreditem, mas comecei fazendo compilações de discos de novela, as internacionais. Pois é, nem sempre fui um devoto do rock and roll. Passei por algumas fases antes de chegar até aqui (rs). Bem, retomando a trilha, posteriormente comecei a fazer fitas pros amigos. Depois, naturalmente, passei àqueles instantes para impressionar alguém. Eis aí o xis da questão: a lista que fazemos pra alguém com segundas, ou todas, intenções. É o momento em que nos expressaremos pelas palavras dos outros (isto está no livro Alta Fidelidade, do Nick Hornby, cujo trabalho inspirou a peça). Esse é um momento sublime, então tem que ter um certo capricho, um cuidado, tudo pra não soar exagerado, nem intenso demais. É preciso dar fôlego a outra pessoa e fazê-la pedir mais.

O espetáculo Trilhas Sonoras de Amor Perdidas passa, em memória, por este período, quando ainda crianças ou adolescentes, nos iniciamos na melancolia da música pop, com um universo todinho nosso.  É inevitável a identificação com o personagem vivido pelo ator Guilherme Weber. Nunca escrevi um diário, mas tivesse eu cultivado este hábito poderia dizer que a peça foi escrita após alguém roubá-lo de mim.  Ser um adolescente introvertido, tímido, começando a curtir músicas, livros, cinema. Romantizando relacionamentos a procura de alguém com a mesma intensidade, mesma devoção e obsessão, não exatamente o mesmo gosto, mas algo muito próximo. Pois é, o melhor de tudo isso é descobrir que não sou o único a ter o “diário roubado", mas toda uma geração. Claro que o fato de o personagem de Weber ser jornalista, ter 38 anos, e estar se preparando para buscar um novo amor, faz tudo ser ainda mais verossímil.  

Sentado solitariamente numa poltrona de seu novo apartamento, com uma xícara de café, Weber recorda seu grande amor, Soninho, interpretada por Natália Lage. Tudo a partir de uma fita k7 datada de 1994, mas que não identifica quais as músicas contidas. Culpa, talvez, daquele espaçozinho ridículo que as fitas tinham para escrevê-las. Então ele a coloca no toca-fitas e o som do Pavement reverbera e desencadeia toda a trama.

Foi a magia da música que os aproximou, os conectou e permitiu que personalidades distintas pudessem criar um amálgama  em torno de ambos. Soninho está para Weber, como Summer Finn está para Tom Hansem , em 500 Dias Com Ela (se você ainda não o viu, veja). 

Weber vai reconstruindo os caminhos que o levaram até ela, todos, devidamente pavimentados por canções pop, bem como os que passou ao lado dela, o casamento... Desde quando a observou pela primeira vez, surpreendendo-a a cantarolar Thirteen, do Big Star, num bar de sua cidade (imagina aquela música que você pensa que só você conhece, justo a menina mais bonita do local começa a cantar junto), quando usava um vestidinho preto, daqueles “venha foder a dona”, como ela mesma o descreve mais adiante. Quanto mais a conhece, mais se envolve, mais se apaixona. Imagino não ser nem um pouco difícil se encantar por uma menina cujo primeiro single de sua vida foi a obra-prima Good Vibrations, dos Beach Boys. Uau, escrevendo isso, lembrei-me, agora, de já tê-la afetuosamente dedicado a alguém, por ocasião de seu aniversário. Também era essa a canção que desligava o bloqueio, na estação submersa da ilha de Lost, de qualquer sinal de comunicação entre a ilha e o resto do mundo.

Além de Soninho, há também destaque a Singer, interpretada por Maureen Miranda, que foi a garota com quem Weber perdeu a virgindade ao incrível som de Beast of Burden, dos Rolling Stones. Bem, essa eu ainda não dediquei a ninguém, não. Mas quem sabe?

Trilhas Sonoras tem a fórmula de sucesso e qualidade de dois mestres do cinema, John Hughes e Quentin Tarantino, que é aliar um ótimo texto com canções maravilhosas. Passam pela vitrola e tape-deck Pavement, Big Star, David Bowie, Prince, Elton John, New York Dools, Pretenders, Gladys Knights & The Pips, Nirvana, The Cure, The Smiths, R.E.M, Pearl Jam, Pixies, Blur, Beach Boys, e mais uma porção de coisas bacanas, mas que não vou poder me lembrar de todas, I sorry. Quanto aos Beatles, Led Zeppelin, Ramones e que tais eu não me esqueci, não. É que não tem mesmo. Ao menos que eu me lembre. Ah, na noite em que vi o espetáculo, 24/07, antes dos atores entrarem em cena, com a sala apenas na penumbra, uma bela homenagem a Amy Winehouse, com Back to Black.

O público se envolve com uma história tão comum à nossa geração. Há momentos realmente mágicos como quando Soninho canta Don´t Get Me Wrong, dos Pretenders, à capela. Weber no backing vocal, e dançando, de Gladys Knights & The Pips, todo o momento que resgata Singer em sua memória. Os conflitos do casamento. A contextualização histórica por conta do lançamento do álbum Desintegration, do The Cure. A morte de Kurt Cobain. E, ao menos pra mim, o momento mais sublime do espetáculo quando Weber, à sua maneira, pede Soninho em namoro. Algo como “Eu não sei se você tem namorado, o que eu sei é que eu gosto de você. Eu quero ocupar um espaço na sua vida. Pode ser o espaço de amigo ou de namorado. Qualquer espaço que tiver na sua vida, pra mim tá bom. Eu posso começar num espaço e depois ocupar outro espaço. Não tem problema”, depois seguem pra casa da moça e trocam beijos ao som de uma coletânea dos primeiros trabalhos de Elton John.

O espetáculo tem aproximadamente três horas de duração, dividida em dois atos com um intervalo de 15 minutos entre ambos. O primeiro é dedicado a adolescência, quando as músicas são, digamos, mais lado B. Já o segundo ato representa a vida adulta, a partir do casamento dos protagonistas. Musicalmente falando tem um lado mais pop. Acho que isso acontece quando ficamos mais velhos. Mas a qualidade continua em alta.

Depois de assistir Meia Noite em Paris e agora Trilhas Sonoras de Amor Perdidas creio que sou um privilegiado. Também me enche de esperança de me reencontrar, além de, talvez, mais seguro para encontrar a minha Soninho, minha Adriana, minha Summer, minha Malu, minha Mônica...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Aos amigos!!!

“Não somos nós que escolhemos nossos amigos e sim eles que nos escolhem”. Se a frase acima é verdade eu não sei, mas feliz é aquele que consegue ter alguns destes pra todos os momentos da vida.

Diferentemente de parentes, que são impostos, amigos se criam por conta de algum vínculo afetivo com o mundo exterior. Pode ser um time de futebol, uma banda, a escola, o trabalho, uma causa e até a internet. Motivos, lugares e horas não faltam pra se encontrar um amigo.

Mas não se iludam, pois amigos são tão preciosos que são raros. Ao longo da vida conhecemos centenas, milhares de pessoas até. Mas aqueles que iremos chamar de amigos, que nos lembraremos pra vida toda, independentemente de quanto tempo demora pra nos vermos, serão poucos. Por conta disso os guarde no coração.

O amigo verdadeiro é aquele que saca que você não está bem só em você dizer oi. É aquele que se coloca a ajudar sem nem ao menos pensar no que acontecerá a ele próprio. Por isso a amizade verdadeira é incondicional. Por isso é pra poucos.

Cultive cada um destes e os trate como se cada encontro fosse o último. Não se envergonhe em dizer o que sente, o quanto é importante em sua vida e quão bem faz a você.

Bem, meus verdadeiros amigos sabem que me dirijo a eles. Àqueles que sou apenas colega, sempre haverá uma chance.

terça-feira, 19 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 4

Há exatos 23 anos a Legião Urbana subia ao palco do extinto Projeto SP, em comemoração ao 3º aniversário da – então, ótima – Revista Bizz, pela última vez com a clássica formação que gravou os três primeiros álbuns da banda. Pouco tempo depois o baixista Renato Rocha saiu sem maiores detalhes, enquanto o grupo já havia definido ser necessário mudar o rumo do barco. Sobretudo por conta do fatídico show de Brasília, 31 dias antes desta apresentação, que não acabou bem e mexeu com o emocional de seus integrantes. Ou seja, depois deste show a Legião Urbana se trancaria num estúdio por longos 12 meses. No entanto, o resultado deste árduo trabalho nos recompensaria com o magnífico As Quatro Estações.

A turnê de Que País é Este, diga-se de passagem, fora encerrada alguns dias antes com as duas apresentações no Festival Alternativa Nativa, com shows memoráveis e de casa abarrotada. Vale lembrar que este festival era apenas com bandas nacionais dividindo o palco do Maracanãzinho. À Legião Urbana, porém, cabia o privilégio de desempenhar suas performances sozinha, com um público e palco somente seu.

Já para o aniversário da Bizz, a ideia original para esta apresentação era fazer um show apenas com covers dos Beatles, Jimi Hendrix, Rolling Stones, Elvis Presley, David Bowie, devidamente executadas depois de abrir com Que País é Este que, até aquele momento, abriu quase todos os shows da banda, desde o primeiro trabalho gravado.

A Legião desfilou clássicos como Purple Haze, Come Togheter, Heroes, Rout 66, Summertime, You´ve Got to Hide Your Love Away e ao fim do set o público queria mesmo era ouvir as canções da banda.

Assim Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha tocaram parte do repertório da turnê para um público privilegiado. Afinal, a casa era pequena e não havia aquela loucura típica dos raros shows da banda. A apresentação seguiu com Eu Sei, Quase Sem Querer, Faroeste Caboclo (que ainda era executada nas rádios de um extremo ao outro do país), Ainda é Cedo (sempre especial e intensa), Baader-Meinhof Blues, Angra dos Reis, Mais do Mesmo, Tempo Perdido, Será e “Índios”. Entre uma faixa e outra Renato Russo mostrava seu lado carismático e conversava com o público como se todos fossem seus velhos amigos. 

Traçando um paralelo, é impressionante lembrar que a apresentação seguinte da banda em São Paulo aconteceu dois anos depois, no auge do álbum As Quatro Estações, com dois dias no estádio Palestra Itália, com um público estimado em 100 mil pessoas. Se alguém ainda duvidava do potencial da banda, este quarto disco não deixou qualquer interrogação. 

Com a morte prematura de Renato Russo, em 1996, a Legião Urbana acabou, mas o seu legado ainda está aí. Pra nossa geração e quantas mais vierem.

Nesta mesma noite foi criado o fã-clube Legião Urbana no Coração dos Paulistas.  Um grupo de fãs da banda tão heterogêneo que seu gosto musical variava da MPB ao Punk, underground e outras tendências. Pessoas que convergiram por conta de uma paixão alucinada e desenfreada, mas que dificilmente se conheceriam numa megalópole como São Paulo. Porém, a oportunidade nos foi dada e vem daí algumas de minhas amizades pra vida toda: Alcina, Cilene, Claudinha, Jânio, Eduardo, Walt, Subré, Jobert, Marcelo, Luzia, Marcos, Marcio... Enfim, gente que não vejo com frequência, mas quando nos encontramos é sempre especial.      

URBANA LEGIO OMNIA VINCIT. OUÇA NO VOLUME MÁXIMO!   

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 3

O Começo do Fim do Mundo foi um marco na cena Punk Paulistana, ocorrido no início da década de 80, no SESC Pompéia. Este festival reuniu cerca de 20 bandas em dois dias de shows, exposições e outras formas de divulgação da cena Punk mundo afora. O evento teve direito a grande repercussão de mídia, inclusive, internacional, além de reunir inimigos declarados como os Punks de SP e do ABC. A ideia era difundir e fortalecer o movimento e acabar com o estigma de violência gerada por seus seguidores.  

Então, nada mais apropriado que Os Inocentes celebrassem seus 30 anos de Punk no mesmo SESC com direito a vários convidados e um público variado. Sim, não eram só punks, não. Eu, por exemplo, nunca fui Punk, mas sempre gostei do som sujo e simples e, como bem definiu Clemente, “fodam-se os rótulos”.

A noite começou com Nada de Novo no Front, pra mostrar que pouca coisa mudou nestes 30 anos. O primeiro convidado a subir ao palco foi Maurício, primeiro vocalista da banda, pra cantar Medo de Morrer e Garotos do Subúrbio, esta última, já com outro convidado, o guitarrista Calegari (365). A partir daí o público entrou em ebulição total.

Antes de outra participação especial Aprendi a Odiar causou arrepios, abrindo espaço para André Parlato, ex-baixista da banda, em Ele Disse Não. Intolerância veio acompanhada de um discurso do vocalista Clemente sobre os novos ataques neo-nazistas em Sampa, essas babaquices inconsequentes de sempre.

Em meio a tantos marmanjos no palco chega a vez do toque feminino de Sandra Coutinho, das Mercenárias, na execução de Somos Milhões e Desequilíbrio.  

Ari Baltazar, do 365, veio pra nos brindar com o hino São Paulo, devidamente entoado pelo público numa noite fria, tipicamente paulistana. Na sequência, a sua versão de Grandola, Vila Morena. Encerrando as participações, pra lá de especiais, sobe ao palco um alucinado Wander Wildner, dos Replicantes. Primeiro vem Milagre e pra acabar com nossos esqueletos, Surfista Calhorda.

Com o público em êxtase Os Inocentes arremataram o serviço com Cala a Boca e Pátria Amada. Fim.

Opa, eles voltam e atacam de Pânico em SP, com a devida apresentação da banda com a mesma formação a mais de uma década e meia. Pra fechar com chave de ouro e com todos os convidados no palco tocam, em clima de festa total, I Fought The Law, do Clash. Agora sim, é o fim de uma grande noite.

Bom pra relembrar um período de quando a informação era segmentada, de difícil acesso. Quando a qualidade era o diferencial e não a velocidade. Bons discos requeriam uma garimpada em lojas especializadas, como a Wop Bop, no centro de São Paulo.  Muito diferente da efemeridade contemporânea.

Que me perdoem os mais jovens, mas shows como este, só bandas deste quilate são capazes de nos proporcionar. Ah, eu ainda ganhei a palheta do Ari Baltazar. Cool!     

Fatality, we win!!!! 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 2

Seguindo a retomada dos anos 80 por parte do SESC, o Ultraje a Rigor foi a banda convidada a abrir o mês de julho dedicado ao Rock Nacional. Com duas apresentações agendadas pra os dias 1 e 2, o grupo paulistano tocou todo  o repertório de seus dois primeiros discos, cabendo a estreia o deleite da execução de Nós Vamos Invadir Sua Praia, um clássico de 1985.

É bem verdade que somente Roger, vocalista, guitarrista, letrista e frontman, se mantém da formação original da banda, mas nada impede que os novos integrantes do grupo o façam com competência. Na condução do contra-baixo, nada menos que Mingau, que já tocou com meio mundo do underground paulistano, Marcos Kleine, na guitarra,  Bacalhau, na bateria, e mais Ricardinho, backing vocal.

Sem maiores rodeios a banda subiu ao palco invadindo a praia e ganhando a plateia com a faixa-título. Praticamente sem pausa entre as músicas, fora um ou outro probleminha técnico, o Ultraje desfilou os hits do álbum de estreia, que mais parece um hit-single, acompanhado em uníssono pelo público.

Ouvir Nós Vamos Invadir Sua Praia é mais que um processo de nostalgia. É voltar num tempo em que as coisas aconteciam numa efervescência alucinante. Havia muita gente nova fazendo música e um público ávido por novidades, cansado da pasmaceira dos padrões das FMs. Era a consolidação de um gênero musical, o tal do Rock Brasil. Tudo bem, você vai dizer que desde os irmãos Tony e Celly Campello, década de 50, se faz rock no Brasil, ok? Mas, digamos que, como movimento cultural, algo que a própria indústria fonográfica apostasse, só aconteceu mesmo depois de Você Não Soube Me Amar, da Blitz, em 1982. E foi, indiscutivelmente, esta geração quem o catapultou a números significativos. Foi quem permitiu investir em tecnologia para estúdios de gravação, foi quem obrigou as rádios a abrirem espaço na programação independente de refrões, palavrões e até de tempo de duração das músicas. Foi esta geração quem colocou o Brasil no circuito mundial de shows, vide o primeiro Rock in Rio. 

À época do lançamento deste primeiro álbum do Ultraje vivia-se o processo de redemocratização e, não por acaso, Inútil virou o hino do movimento Diretas Já! Não é exagero dizer que ele era uma resposta paulista – sem qualquer preconceito, ok? –, ao rock carioca que tomava conta das rádios. Blitz, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Léo Jaime, Lulu Santos, e outros, todos da Cidade Maravilhosa, embalados pela new wave. Já Nós Vamos Invadir Sua Praia tem uma pegada pós-punk. Embora recheadas de humor, as letras de Roger tinham acidez e críticas num tom típico de quem não vê o mar ao acordar, o autêntico paulistano. Provavelmente vem daí a ideia de invadir a praia.

Feitas estas considerações, retornemos ao show. Nos mesmos moldes do Projeto Álbum, do qual já participaram Os Paralamas do Sucesso, a ordem das músicas seguiu a mesma do Lp, com direito a “agora vira o disco”, proferido por Roger. Basicamente apenas Você Sabia não era exatamente de domínio público, como frisou o vocalista. As outras canções reverberavam no ambiente aconchegante da Chopperia do SESC. Destaques para Nós Vamos Invadir Sua Praia, Rebelde Sem Causa, Zoraide, Ciúme, Inútil e Independente Futebol Clube. De repente me vi num comício de 1º de maio, em 1986 acho, em Osasco, quando o mesmo Roger sacudiu o público com todas estas preciosidades, em frente a estação de trem. Ou até mesmo na sala da casa da Marisa ouvindo-o na “vitrolinha”, quando estava engatinhando neste mundo rock and roll, mas ainda sem tanta convicção.

Depois de encerrado o álbum, com a temperatura ainda nas alturas, tocaram Nada a Declarar, Long Tall Sally (Beatles, com Ricardinho nos vocais), Chiclete, Blitzkrieg Bop (Ramones, com direito a esquecer a letra) e Paranoid (Black Sabbath).

Arrebatador!
http://www.youtube.com/watch?v=3WuR_iWrZXA&feature=related


segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Belle Époque do Rock Nacional 1

Eis que após assistir a maravilha cinematográfica de Meia Noite em Paris, de Woody Allen, que lida com o conflito entre a nostalgia de um tempo há muito distante e o singular presente, fui brindado por shows memoráveis que celebraram, claro, o passado. Primeiro foram Os Paralamas do Sucesso que revitalizaram o conceitual álbum Selvagem?, com seis apresentações no SESC Belezinho, dentro do projeto Álbum. A mim, coube o privilégio de acompanhar duas destas noites. Estrategicamente escolhi a primeira e a última.

Logo na entrada um suvenir maravilhoso no formato de um compacto de vinil, ressaltando a ideia do projeto em resgatar a memória da música brasileira através de discos influentes. O jornalista Jotabê Medeiros, O Estado de S. Paulo, escreveu a respeito da importância deste terceiro álbum na carreira do grupo e no próprio cenário pop/rock nacional, além de outro texto do baterista João Barone sobre a necessidade da banda em alçar novos voos e mostrar sua verdadeira identidade. Indubitavelmente com este Selvagem? Os Paralamas do Sucesso demarcaram seu território, muito além dos rótulos.

A noite começou muito bem com o riff cavalar da faixa-título – com direito a Polícia, dos amigos Titãs –, e segue praticamente o mesmo running order do álbum. Os momentos altos ficaram por conta da já citada canção de abertura, A Novidade, Melô do Marinheiro/Marujo Dub, Você e Alagados que abre o disco, mas propositadamente foi deixada por último para sacudir a galera. Não há quem a resista.

Todo este disco tem cerca de 40 minutos de duração, logo, a banda começou a desfilar uma enxurrada de hits inundando nossa mente com velhas e caras lembranças. Essa, digamos, segunda parte do show começou com o peso do Calibre, àquela que marcou a retomada da carreira do conjunto após o fatídico acidente sofrido pelo guitarrista Hebert Vianna. Em meio à sofisticação do som do grupo, esta veio no mais puro baixo, guitarra e bateria. O Beco me remeteu ao longínquo 1989, quando os vi pela primeira vez. Aliás, este foi o meu primeiro show de rock, findando a turnê do quarto disco, o Bora–Bora. Meu Erro garante mais um momento de euforia e agito na pista, seguido por um momento pra curtir a dois com as belas Lanterna dos Afogados, Caleidoscópio e La Bella Luna.

Mas brasileiro gosta mesmo é de festa, então tome Lourinha Bombril, que não sou muito fã, não, mas na pista funciona que é uma beleza, e Uma Brasileira pra encerrar o set.

Muito bem acompanhados pelos músicos João Fera, teclados, Bidu Cordeiro e Monteiro Jr, nos sopros, James Muller na percussão e o grande produtor da pérola Selvagem? Liminha, na guitarra, o trio João Barone, Bi Ribeiro e Hebert Vianna volta para um bis retumbante: o duo Sonífera Ilha e Ska e no encerramento a primeira canção do grupo: Vital e Sua Moto.

Triunfante!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Que bom que existe um Woody Allen

“Aqui, Joven Pan Paris, às margens do Sena, junto a Maison de la Radio, clima agradável, com os termômetros marcando 20 graus,”, assim se apresentava o saudoso jornalista, Reali Júnior falecido em 9 de abril, correspondente, entre outros, da referida rádio paulistana, no Jornal da Manhã. Aquele jornal famoso por informar as horas “Agora 6 horas e 30 minutos”, ao qual uma voz dizia: “Repita”, “seis e meia”. Quem nunca o escutou? 

Eis que assim Reali sempre alimentou ainda mais a minha vontade de conhecer a Cidade Luz. Mais até que filmes e a literatura. Mais que o futebol esplendoroso de Zidane e Platini, este bordão me instiga e continua povoando minha imaginação. Aproveito pra opinar que, ao lado de Buenos Aires, Paris tem o nome mais bonito já atribuído a uma cidade.

Agora falando do filme Meia Noite em Paris, Woody Allen acertou em cheio ao levantar o eterno conflito de que o passado é melhor que o presente, ao menos pra muita gente. Eu, provavelmente, sou uma dessas pessoas que enxergam mais qualidade em muitos aspectos. Por vezes sou saudosista, até nostálgico, mas, na medida do possível, sempre pronto a olhar pra frente, mesmo quando a inércia é lisérgica, a preguiça é retumbante ou as perspectivas não são as mais favoráveis.

Inteligentemente Allen brinca com mundos paralelos e coloca o escritor Gil, interpretado por Owen Wilson, na sua chamada “Era de Ouro”, que é quando cada um considera sua época favorita, no caso, a Paris dos anos 20. Antes disso, Gil tem de lidar com o fato de ser um bem sucedido roteirista de Hollywood, mas frustrado pela qualidade de seu trabalho, que classifica como superficial. Por conta disso está escrevendo um romance e acredita que a Cidade Luz é a inspiração ideal para finalizá-lo. Além da questão profissional tem uma noiva (Rachel McAdams) no melhor estilo patricinha fútil, os sogros, que não o veem com bons olhos, bem como um casal de amigos da noiva, cujo homem é um ex-professor dela e de uma arrogância ímpar.

Uma vez em seu mundo de sonhos Gil encontra com seus heróis, os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, além do músico Cole Porter, do pintor Pablo Picasso e do cineasta Luis Buñuel. Mas é por Adriana (Marion Cottilard), amante e musa inspiradora de Picasso, que Gil sente seus maiores conflitos internos, tamanha sua beleza e carisma. Ele está prestes a se casar, mas se vê apaixonado por esta nova e sublime mulher.

Allen mostra o quanto é inquietante e até perturbador esta necessidade de (re) viver o passado. Esta busca incessante, põe Gil a refletir, sobretudo, por seus amores. Existe um amor no passado que, talvez, seja melhor deixá-lo por lá, guardado como uma incrível lembrança. Não necessariamente que tenha que ser resgatado, mas que ele possa servir de combustível a novas conquistas, uma vez que seu tempo passou, ficou em algum lugar e não é preciso debruçar-se sobre ele o tempo todo.     

A busca pelo novo pode ser tão gratificante quanto um flashback. Entender que o que o cerca é a oportunidade de fazer acontecer, de se reinventar. E se não acontecer exatamente como planejado, tenta-se, porque não, uma terceira via. Gil capta as nuances e sutilezas impetradas pelo destino e busca se encontrar.

Tudo muito bem conduzido por um Woody Allen revigorado e que consegue fazer de Paris a sua tão querida e bem retratada Nova York. Há diálogos deliciosamente divertidos, sem ser pueris. O humor típico do autor, sem exageros, mas que garante ao espectador ótimas risadas.