sábado, 21 de maio de 2011

Vem aí o Brasileirão 2011


Eis que a grita da imprensa, em sua maioria corintiana, deu resultado. Ou melhor, fez a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) se coçar. Estou falando sobre as “entregadas” de São Paulo e Palmeiras para o Fluminense ser o campeão Brasileiro de 2010. Como se o Corinthians não tivesse em dois jogos contra duas equipes rebaixadas, Vitória e Goiás, tropeçado nas próprias pernas e não tivesse, ele próprio, jogado o campeonato no ralo. E olha que o time de Parque São Jorge não foi sequer o vice. Ficou apenas em terceiro, o que lhe custou a participação na Libertadores deste ano. Com todo este burburinho, os “erros” de arbitragem que o favoreceu, nem são lembrados mais. 

Digo grita da imprensa, em sua maioria corintiana, porque, em 2009, o mesmo Corinthians não fez o menor esforço ao enfrentar o Flamengo, na penúltima rodada do Brasileirão, daquele ano, em tese, prejudicando o São Paulo. No entanto, não houve tamanha repercussão. No máximo uma linha aqui, outra ali. E só. Nunca é demais lembrar que o Tricolor paulista também liderava a competição há três rodadas do fim. Mas em nove pontos disputados, somou apenas três. Então, em ambos os casos, a culpa foi de quem?

Pra mostrar que está atenta a tudo a CBF (Circo Brasileiro de Futebol) resolveu montar a tabela com clássicos estaduais nas duas últimas rodadas da competição. Pois assim, a rivalidade impede que um time “entregue” ao outro. Ok, perfeito. Esquece-se, porém que São Paulo e Rio de Janeiro terão dois grandes jogos no mesmo dia. Especialmente na última rodada.

Esquece-se ainda que no Rio de Janeiro só há um estádio, uma vez que o Maracanã foi demolido para, mais uma,  reforma visando a Copa de 2014 (isso merece um post à parte). Ou os cartolas da CBF (Casa da Bagunça do Futebol) não estavam sabendo disso? Bem, se Ricardo Teixeira e sua trupe já não dão à mínima para o nosso amado esporte, eles estão nessa pelo business,  imagina agora que o manda-chuva preside, concomitantemente, a entidade e o Comitê Organizador da Copa.

A medida paliativa, não resolve o “problema”. Mas ela faz, por exemplo, o São Paulo e o Vasco não viajarem nas últimas três rodadas da competição. Aliás, as últimas duas temporadas não se resolveram na última, mas na penúltima rodada. E na configuração da tabela deste ano dá margem à mesma dúvida. Pois há jogos entre times que, em tese, podem estar lutando pelo título, envolvendo seus rivais estaduais.

Antes que alguém diga que o problema está no sistema de pontos corridos, basta lembrar o Paulistão de 2003. Na ocasião, o São Paulo enfrentou o Santo André e abriu fáceis 2 a 0.  Depois tirou o pé e ocorreu o empate, com um gol bem estranho, inclusive, do time do ABC. Eliminando assim, o Santos, que não fez sua parte nas suas partidas.

Enfim, o pior de tudo é que a medida parte do pressuposto de que todos são culpados até que se prove em contrário. Confesso que eu tenho dificuldades em entender isso.

Falando um pouquinho de futebol, prognósticos no início da competição são verdadeiros desafios, pois os times tendem a mudar com a janela do futebol europeu. A perspectiva de perder seus melhores jogadores está sempre à espreita, pois equipes do velho continente costumam seduzir nossos craques, mesmo com migalhas, e os times daqui fazem muito pouco para segurá-los. Dentro da normalidade e sem grandes mudanças, três times largam como favoritos: Santos, Internacional e Cruzeiro. 

Naturalmente, o time de Vila Belmiro é o que tem mais ponderações. Se vencer a Libertadores jogará o Mundial de clubes no fim do ano e dificilmente se empenhará com o mesmo afinco ao longo Brasileirão. No entanto, até por ter Muricy Ramalho no comando, pode tornar o desafio de vencer todas as competições um estímulo pra lá de atraente. O que mais pesará contra o Santos, na verdade, serão os desfalques que o time sofrerá durante a Copa América (de seis a sete rodadas). Neymar e Elano estarão na lista de Mano Menezes, além de Ganso, que se recupera de contusão e, a princípio, não parece que terá mercado lá fora nesta janela, já que ficou fora dos gramados praticamente uma temporada inteira. 

Um pouco abaixo aparecem Fluminense, atual campeão, São Paulo, Corinthians e Flamengo. Além de eventuais surpresas. Na ponta de baixo da tabela, dos chamados grandes, o Botafogo é o que mais corre perigo, já que o time atual é extremamente limitado. Se os estaduais não servem de referência aos que vencem a competição, imagine aqueles que nem brigam pelo título. Também brigam para permanecer na elite, América-MG, Bahia, Figueirense, Atlético-GO, Ceará e Avaí. Evidentemente que tudo é prognóstico, que não tem a menor pretensão de se tornar realidade. É apenas a minha opinião e a maneira como vejo o futebol. Podem até discordar, mas não precisam me xingar por isso, ok?
http://www.youtube.com/watch?v=EfT3dxXN1O0


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Atingindo a maioridade

Vinte e cinco anos é tempo à beça. Não por acaso, feitos com esta idade costumam ser bem comemorados. No casamento, por exemplo, comemora-se a bodas de prata. Eu acho significativo falar em um quarto de século.

Pois bem, mês passado completou 25 anos do lançamento do álbum Selvagem?, do grupo Os Paralamas do Sucesso. Em princípio, recebido com desconfiança, especialmente, pelos colegas de outras bandas do Rock Brasil. O disco vazou, em fita cassete, na Rádio Cidade do Rio de Janeiro, e já saiu causando polêmica. Uns amaram, elogiando a evolução musical, sobretudo a mistura rítmica, a temática social e letras maduras. Outros odiaram e as críticas, basicamente, vinham no clichê: cadê o rock? Até o próprio Hebert Vianna ligou pra rádio pra explicar a mudança em relação aos dois primeiros discos.

Importante ressaltar que Selvagem? é, antes de tudo, um disco corajoso. Afinal, a banda vinha de um disco super bem sucedido, O Passo do Lui (200 mil cópias vendidas), com nada menos que sete hits, incluindo, o mega-hit Óculos. Um disco pop/rock básico. A banda havia sido o nome brasileiro do primeiro Rock in Rio e seus shows percorreram o Brasil de um extremo ao outro. Seria mais cômodo repetir a fórmula, mas Os Paralamas preferiram ousar.

Muito contribuiu para a realização do disco, da maneira como foi concebido, o acidente automobilístico sofrido pelo baterista João Barone, obrigando a banda a uma parada forçada. Quando retomaram os trabalhos estavam ouvindo muita música africana, muito reggae, e, embora não admitam, eles sempre quiseram deixar a pecha de o The Police brasileiro. Convenhamos, esta sempre foi uma definição muito simplória para o som da banda.

De cara o disco abre com Alagados, quase uma lambada, com a genialidade do guitarrista Hebert Vianna à mostra. Bem, de maneira geral música de cinco minutos pra ser tocada em rádio é uma aberração, no entanto, tocou. Como tocou. A letra é uma crítica social violenta às nossas diferenças. Assim como A Novidade, em parceria com Gilberto Gil. Teerã, bem como A Dama e o Vagabundo são músicas experimentais.

O swing jamaicano do reggae permeia o disco. A já citada A Novidade, Você, O Homem e a bem humorada Melô do Marinheiro. There´s a Party, é cantada em inglês. A faixa-título Selvagem? tem uma fina ironia, pois questiona-se a falta de rock no disco. Porém, o riff de guitarra desta canção é incrivelmente rock and roll. Ao vivo então, é pesadíssimo. A letra segue a linha de Alagados e expõe cruelmente nossas diferenças, preconceitos, ausência do Estado e os demais desmandos.    

Outra boa sacada da banda é a sua versão para Você, do grande Tim Maia. Hebert explicou desejar muito uma música de Tim em disco dos Paralamas. Pensando nas inúmeras possibilidades explicou que a escolheu porque nada pode ser mais definitivo do que dizer a alguém “você é algo assim / é tudo pra mim / é como eu sonhava, baby”, concordo plenamente. 

Enfim, este álbum deu uma guinada na musicalidade da banda e acentuou a sua necessidade de experimentar. Bora-Bora, o disco seguinte, é até mais ritmado, pois já estavam completamente à vontade e respaldado pelo sucesso anterior. Eles apontaram novos rumos na produção de rock no Brasil, quebraram alguns preconceitos, permitindo novas ideias. Deixando de lado restrições por conta de estereótipos. A miscigenação musical é bem vinda desde que realizada por músicos competentes, e este é o caso.

Esta aí um dos meus discos de cabeceira, lançado há longínquos 25 anos. Aliás, o ano de 1986 foi pródigo para o Rock Brasil, pois também foram lançados Dois (Legião Urbana), Cabeça Dinossauro (Titãs), Vivendo e Não Aprendendo (Ira!), O Concreto Já Rachou   (Plebe Rude), Capital Inicial (Capital Inicial), entre outros.



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quarta-feira de cinzas


Não resta dúvidas de que na noite de ontem o Sobrenatural de Almeida estava à solta, diria o saudoso Nelson Rodrigues. Ele transitou, sobretudo, no Beira-Rio e na Arena do Jacaré. Pois todos, inclusive eu, davam como certas as classificações de Internacional e Cruzeiro. Além de meros palpites, tais prognósticos baseavam-se no simples fato de que ambas as equipes brasileiras são, ou eram, melhores que seus adversários, jogavam em casa e com vantagem. Porém, o futebol é realmente mágico e apaixonante por conta disso. Nem sempre o melhor vence, o imponderável apresenta-se sem avisar, até por isso é imponderável, e ser favorito, por vezes, não basta.

Desde a Copa do Mundo de 1950 falamos em favoritismos desmedidos e, invariavelmente, caímos do cavalo. Pra não recorrer tão longe na história e parecer um eterno saudosista basta uma olhada na história recente de nosso futebol. Ano passado o próprio Internacional fez o favor de ser eliminado pelo, prá lá de modesto, Mazembe, do Congo, no Mundial Interclubes da FIFA. Enquanto que este ano foi o Corinthians quem derrubou a “lógica” ao ser eliminado ainda na fase pré-Libertadores, pelo, indubitavelmente mais modesto, Tolima. Neste caso, há o agravante de terem sido realizadas duas partidas em que o time paulista não conseguiu sequer fazer um único gol.

Em Minas o Cruzeiro, melhor time da primeira fase, podia perder por 1 a 0 ou até mesmo empatar por qualquer placar. Mas o que se viu em campo foi um time apático, completamente dominado pelo adversário e que não merecia outra sorte que não a desclassificação. Antes que alguém culpe o Roger, tolamente expulso, pelo fiasco cruzeirense, saiba que o placar de 2 a 0 foi pouco para o time colombiano.  No Sul, a camisa do Peñarol pesou, e muito. Não nos esqueçamos o momento atual do futebol uruguaio: o país foi semifinalista na última Copa do Mundo, ficando à frente da seleção canarinho, e está classificada, como o Brasil, para a próxima Olimpíada. Para um país do tamanho do Uruguai e que tem um êxodo de jogadores assustador, não é pouca coisa. 

Já os visitantes Fluminense e Grêmio tinham duros duelos e a situação dos gaúchos era, a bem da verdade, favas contadas. Bem, em noite de tão grandes “zebras”, ao menos alguma lógica o futebol tinha que preservar, não é? Assim o Grêmio, combalido e desfalcado, voltou a perder para o bom time da Universidad Católica. A derrota no Olímpico mostrou-se irreversível e, embora seja considerado imortal por seu torcedor, até o mais fanático gremista sabia que seria difícil. Quanto ao Fluminense, parece que o time de guerreiros gosta mesmo é de contrariar os matemáticos e causar taquicardia em seu torcedor tricolor. Pois, com uma vantagem relativamente cômoda, já que podia até perder, passou os primeiros 45 minutos no 0 a 0. Mas não é que na segunda etapa levou três gols e foi eliminado? Desta vez nem um escanteio no último lance foi capaz de provocar um golzinho que levaria à decisão por pênaltis.

Como ainda não havíamos tido um desempenho tão ruim em Libertadores, neste novo formato a partir de 2000, com apenas um representante nas quartas-de-final, podemos repensar um pouco a nossa alto-suficiência, como os melhores da América. Parte deste fracasso passa por certa soberba. Quem sabe até mesmo revermos nosso calendário, com tantos jogos desgastantes e inúteis, no primeiro semestre. Já deixo claro que não sou contra campeonatos estaduais, ao contrário. Mas racioná-los é preciso. Nenhum, absolutamente nenhum campeonato estadual, hoje, se justifica da maneira que são realizados. Vinte clubes em São Paulo, 16 no Rio de Janeiro, 16 no Rio Grande do Sul é um exagero sem fim.

Com tantas lições aplicadas em uma só noite já dá para imaginar a maneira como Muricy irá conduzir o time do Santos, único sobrevivente brasileiro do torneio continental, daqui por diante. Aliás, a classificação frente ao América, no México, demonstrou que não há jogos fáceis na Libertadores. Quando muitos disseram que a vitória do Alvinegro por 1 a 0, na Vila, foi pouco, o discurso já era de que o importante era vencer e não levar gols, pois na Libertadores a coisa é diferente.

O Santos não fez um carnaval na terça-feira, após a suada, porém justa classificação, mas que a quarta-feira de futebol foi de cinzas para o Brasil, ah isso foi.
                                                                  
                                                 
 http://www.youtube.com/watch?v=KwSvuq9qoKc&feature=related