A leitura de um livro invariavelmente é mais agradável e mais rica que ver sua dramatização na telona, na telinha ou mesmo no teatro. Poucos conseguem contemplar toda a magia e o encantamento criado pelo autor da obra literária.
Parte disso se explica pelo fato de que, materializados, personagens deixam de habitar somente nosso imaginário, ganham vida e, por vezes, não atendem nossas expectativas. Sem contar que nas páginas em branco a possibilidade de brincar com palavras e criar determinadas situações é infinita. Além do próprio espaço, que é muito maior.
Fiz esta explanação para falar do filme Malu de Bicicleta, baseado no romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Lamentavelmente o filme esteve em cartaz por um período muito curto. Felizmente, o Cinemark tem uma tal Sessão Cine Cult, que coloca filmes de pouco apelo comercial, em uma de suas salas em sessão única. É pegar ou largar. Assim, descobri uma sessão das duas da tarde, no Shopping Tatuapé. Pra mim foi necessário atravessar a cidade, o que fiz com muito prazer e ansiedade.
Como de costume o filme é inferior ao livro, o que não significa que não tenha qualidade. Malu, dirigido por Flávio Ramos Tambellini, cumpre seu papel no que toca a sua essência: a fascinação – e porque não dizer a confusão de sentimentos – que esta mulher desperta em Luiz Mario, um galinha nato, convicto, mas que abrirá mão de todas as demais mulheres, “apenas” por ela. Uso aspas em apenas porque Malu não é uma mulher qualquer. Ela é daquelas mulheres que povoam nossos sonhos, os sonhos mais delirantes. Afinal, ela é linda, simpática, doce, inteligente, bom papo, bom gosto pra música, livros e filmes. Resumindo, Malu é tudo.
O filme concentra-se no romance do casal, lembrando apenas algumas das conquistas de Luiz Mario, incluindo Cris, cujo desfecho é o ponto de partida para que o conquistador tente respirar novos ares. É quando Luiz Mario decide ir à Cidade Maravilhosa e é atropelado pelo amor. Na orla do Leblon a carioca Malu passeia em sua bicicleta, enquanto o paulista desavisado atravessa sem olhar e... Como não se encantar com aquele ar de menina-mulher?
Depois de inúmeras idas e vindas entre SP e Rio, resolvem morar juntos, em São Paulo. Malu é capaz até de relevar a fama de galinha de Luiz Mario para que a relação de ambos seja harmoniosa. Tudo caminha bem até Luiz Mario encontrar uma carta misteriosa de amor em meio aos livros de Malu. A partir daí dúvidas e incertezas povoam sua cabeça e o faz questionar se Malu é tudo aquilo que ele imaginava. Se segredos e desconfianças já costumam abalar qualquer relação, o que dizer então da imaginação?
A bela trilha sonora coube ao guitarrista Dado Villa-Lobos (ex-Legião Urbana), que já havia trabalhado com Tambellini em Bufo & Spallanzani (2001). Aliás, Dado tem se saído muito bem nesse ramo, tanto que foi premiado com o próprio Bufo (Festival de Cinema Brasileiro) e o documentário Pro Dia Nascer Feliz (João Jardim, Festival de Gramado, em 2006). Além de assinar a trilha de O Homem do Ano (José Henrique Fonseca, 2003) e do seriado Mandrake (HBO).
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