O Rock in Rio nasceu, assustou por seu tamanho no longínquo 1985, hibernou alguns anos entre a primeira e a terceira edições (1991 e 2001), e cresceu até que a partir de 2004 virou uma franquia com apresentações em Lisboa, Madrid e até Las Vegas. Em 2011 retornou ao Brasil e desde então acontece regularmente (a cada dois anos). Visto hoje, in loco ou pela TV, sobretudo os mais jovens, não têm ideia de quão desbravador foi a ousadia de Roberto Medina lá em meados dos anos 80. As negociações começaram desanimadoras na terra do Tio Sam. Aliás, desanimadoras não, começaram sob forte desconfiança de que nem nos EUA alguém conseguiria levar este festival adiante. Mas bastou uma conversinha do brasileiro com Frank Sinatra, que ele havia trazido ao Brasil em 1980 para um show no estádio do Maracanã, para as coisas mudarem. Assim, no dia seguinte a uma declaração de Sinatra sobre a credibilidade do organizador, “Houve fila de agentes dos artistas no hotel para virem ao Rock in Rio”, nas palavras do próprio Roberto Medina. Assim, em 11 de janeiro de 1985 Ney Matogrosso subiu ao palco da cidade do Rock (local especialmente criado para abrigar o festival), ainda sob a luz do dia, para a abertura do maior festival de música na América Latina, desde sempre, o Rock in Rio.
Até então, poucos artistas se arriscaram a tocar em solo
tupiniquim, ou mesmo na América do Sul. Nossa fama era a de não pagamento dos
cachês combinados, furto de equipamentos, péssimas condições técnicas, e por aí
vai. Contavam-se nos dedos os grandes artistas que vieram ao Brasil: Santana, Alice
Cooper, Genesis, Rick Wakeman, Earth, Wind and Fire, Van Halen, Queen, Kiss, The Police, além do já
citado Frank Sinatra.
É inegável o peso das atrações internacionais desta primeira edição do festival, mas a base para realizá-lo, indiscutivelmente, foi a nova cena musical que explodiu no Brasil, especialmente a partir do estouro da Blitz, em 1982. Vieram na mesma leva Barão Vermelho, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Lulu Santos, Eduardo Dusek e Os Paralamas do Sucesso. Além de nomes não escalados para o festival como Ritchie, Camisa de Vênus, Titãs, Magazine... A partir do sucesso desses artistas ficou claro para gravadoras, rádios e promotores de espetáculos que havia uma cena forte no Brasil. Era juntar a fome com a vontade de comer, pois ao mesmo tempo que muita gente estava fazendo música de qualidade, havia um público ávido por novidades. O Rock in Rio impulsionou o mercado que provou que o rock era viável no Brasil. Sem contar que toda a parte técnica evoluiu com o festival. Tanto estúdios, quanto equipamentos e profissionais da área.
Naquele 1985, tudo era novidade, tanto para quem assistia quanto para quem tocava. Mesmo às atrações estrangeiras acostumadas com grandes arenas, não sabiam o que esperar do público brasileiro. Whitesnake (que substituiu Def Leppard) foi a primeira atração estrangeira a experimentar a nova arena e aprovar a plateia, seguido por Iron Maiden. Para encerrar a noite o Queen deu o ar da graça, com quatro anos de atraso para o público carioca. Ali ninguém mais duvidava que o público brasileiro adorava rock n´roll. Ao longo do festival ainda desfilaram outras grandes estrelas internacionais como AC-DC, Ozzy Osbourne, Scorpions, Rod Stewart, Yes, Al Jarreau, The B-52´s, entre outros.
Seis anos depois, com igual barulho, veio a segunda edição do festival, desta vez no estádio do Maracanã. Naquele instante o rock nacional vivia um outro estágio, tanto que o Barão Vermelho se retirou do evento pelo simples, mas necessário, fato de não ter as mesmas condições técnicas que as bandas gringas. Nessa, eu estou com o Barão. Aliás, esse era um dos motivos que fizeram a Legião Urbana jamais se apresentar em festivais deste porte.
A banda da vez era o Guns N´Roses que brindou o público brasileiro com uma enxurrada de hits – embora o Pedro Bial não conhecesse “Patience” e tenha entrado no meio da música, imaginando que já tivesse acabado –, além de uma premiere de Use Your Ilusion I e II, em duas grandes apresentações. Também vieram ao Rio o Prince, George Michael (o maior cachê do festival), Judas Priest, Megadeth, INXS, além de novatos como Faith No More e Happy Mondays.
Já a terceira edição aconteceu somente 10 anos depois, em
2001. Esta eu tive o privilégio de acompanhar in loco, em três
noites. O cast também foi pra lá de
caprichado, pois vinham ao Brasil, pela primeira vez R.E.M, Neil Young, Foo
Fighters, Beck, e outros shows bastante aguardados como Iron Maiden, Oasis,
Chili Pepers, Rob Halford...
Eu estava louco pra ver o R.E.M pela primeira vez e valeu
todo o tempo de espera. Bem como o grande Neil Young e sua Crazy Horse (tocam
alto pra caramba). Já o Foo Fighters foi uma decepção. Ótima banda de estúdio,
mas ao vivo... Foi tão decepcionante quanto o Nirvana, banda anterior de David
Grohl. Também tivemos bons shows do Barão
Vermelho, Beck, Kid Abelha. Guns N´Roses e Oasis fizeram competentes shows no domingo 14/01. O
problema do Oasis foi que quase todo mundo estava lá pra ver o Guns. Eu
aproveitei muito bem os dois shows.
Depois destas edições o conceito do Festival mudou e isso é assunto pra outra conversa!
O festival foi marcado tanto pelo profissionalismo dos organizadores e das atrações quanto pelo entusiasmo dos fãs. É lamentável que sua história esteja sendo manchada por pseudo artistas, coisas desprovidas de talento e autenticidade, mas vitais para o interesse rasteiro dos transmissores
ResponderExcluirFato
ExcluirPois é, Carlão. Infelizmente jogaram o legado do festival no lixo. Uma pena!
ExcluirEu tive o prazer de estar na primeira noite do primeiro festival em 85, eu era garoto e foi mágico. Parabéns pelo texto Silvano.
ResponderExcluirSensacional Alex. Eu me lembro de assistir alguma coisa pela TV.
ExcluirBelo texto, história e ponto de vista dos fatos.
ResponderExcluirMuito obrigado Fábio. Abs!
ExcluirRock in Rio sempre foi um evento qual tive vontade de apreciar, mas isso em outros tempos.
ResponderExcluirHoje em dia, não mais.
E nem é exatamente pelo fato de o evento não ter somente rock, isso é outro ponto.
Depois que virou franquia, não era só rock, nem era só no Rio.
E sobre isso eu tenho uma história que aconteceu comigo pra contar.
Cês tão com tempo?
Então lá vai...
Em 2015 estive em Lisboa para compromissos da faculdade.
Andando pela cidade via vários outdoors do evento Rock in Rio que aconteceria no ano seguinte, 2016.
Naquele ano Ivete Sangalo participaria (bleh), aliás era a foto dela que ilustrava o outdoor, uma coisa assim, bem rock’n Roll hahaha.
Parei em uma cafeteria (tem uma a cada 50 metros), eu com minha mania de “metonimizar” tudo (chamo pote de tupperware), pedi uma coca e “5 pastéis de Belém”.
O atendente muito educado me informa que “paxxxteixxx de Belém, só em Belém, todos os outros são paxxxtéixxxx de nata”
Agradeci a informação, já que estava no meu primeiro dia de dez, e não passaria por tal engano novamente rs.
Eis QUE ele lança um... “é um tanto óbvio, senhora” .
Tive três segundos para elaborar uma resposta educadamente ácida.
- Seria óbvio se o Rock in Rio fosse Rock in Lisboa, não é mesmo?
E soltei um kkkkk para amenizar e ele me deu razão.
Com isso vemos que não é só rock, nem só no Rio, e desde sempre.
Se eu gosto disso? Eu penso que não, apesar de curtir vários artistas que participam.
Ótima pesquisa, Sil. Parabéns.
Oh Sandra, muito obrigado!!! Que situação essa dos pastéis, hein...rsrs.
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