Passados 15 anos do fim da Legião Urbana, a banda voltou a uma grande arena. Ambiente este, que eles tão bem dominavam já a partir do seu segundo disco, a obra-prima DOIS. Recentemente Dado e Bonfá chegaram a fazer algumas apresentações juntos depois da morte de Renato Russo, mas sempre em pequenos lugares. Os shows que deram origem ao álbum ao vivo Como é Que Se Diz Eu Te Amo, foram mesmo os últimos grandes momentos, com relação ao tamanho do público, em cima de um palco.
Mais que um simples convite para abrirem a noite extra do Rock in Rio, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos aceitaram o desafio de tocar acompanhados da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Uma honra. A despeito do pouco tempo, aproximadamente uma hora, de show, a apresentação foi, sobretudo, uma homenagem a quem melhor representa o chamado Rock Brasil, surgido lá no inicio da década de 80, após a gravação do primeiro disco da Blitz, em 1982. Quem esteve presente a Cidade do Rock ou mesmo acompanhou de casa, sentiu o quão especial era um show da maior banda do Brasil. Se alguém ainda duvidava da grandiosidade e importância da Legião Urbana, tudo caiu por terra após esta quarta edição do Rock in Rio. A emoção foi o maior sentimento de todos os presentes, num público tão heterogêneo e de faixa-etária pra lá de variada.
Aos convidados que assumiram os vocais de canções tão especiais uma responsabilidade e tanto. O bacana é que ninguém estava lá para substituir o Renato, que é insubstituível, mas sim para renderem seu tributo ao ídolo de mais de uma geração. A abertura do espetáculo começou com a OSB fazendo um medley das canções Eduardo e Mônica / Faroeste Caboclo / Ainda é Cedo / Que País é Este / Há Tempos / Geração Coca-Cola, enquanto imagens que ilustravam as músicas e da própria banda eram mostrada no telão. Depois um vídeo de momentos de seu vocalista, com alguns depoimentos e programas de tevê, ao som de Que País é Este.
O primeiro convidado a subir ao palco foi Rogério Flausino, curiosamente sua banda (Jota Quest) começou exatamente em 1996, ano da morte de Renato Russo. Rogério cantou Tempo Perdido e Quase Sem Querer, devidamente entoadas pela plateia. Chegou até a arriscar alguns passos à La Renato. Toni Platão, da velha-guarda (Hojerizah), e seu vozeirão arrematou Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto. Além de uma bela lembrança de outro desbravador do roque brasileiro, Rédson do Cólera, falecido na última quarta-feira.
Coube a Pitty a responsa de cantar a música mais difícil do repertório da noite, “Índios”. Esta, até seu autor tinha dificuldades pra cantá-la. Visivelmente deslocada no início, ela foi se soltando ao longo da canção e conseguiu terminar no clima. Marcelo Bonfá soltou sua voz em O Teatro dos Vampiros, outra música de variação de inflexões vocais em que o baterista se saiu muito bem.
Estrategicamente, ou coincidentemente, duas canções do primeiro álbum da Legião Urbana foram cantadas por dois amigos dos tempos de Brasília. A primeira veio com o padrinho da banda, Hebert Vianna, com Será. Foi exatamente esta música quem desencadeou todo o processo legionário. É ela quem abre o lado A do primeiro disco, todos os vinis acabaram de ser relançados, cujo título é o nome da própria banda. É o primeiro hit do grupo e está tudo ali, basicamente, em sua letra. Encerrando esta primeira parte, Dinho Ouro-Preto cantou Por Enquanto, que é a última canção deste primeiro disco, acompanhado de um coro de mais de 100 mil vozes. Àquela altura, a emoção era mais do que latente.
Pais e Filhos foi a deixa pra todos subirem ao palco, a maioria com uma camiseta de Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães morto em acidente automobilístico, e provocar uma verdadeira catarse coletiva. Absolutamente todos a entoaram em uníssono. Foi contagiante ver os músicos da OSB absolutamente encantados com aquele momento. Eles cantaram juntos, bateram palmas, se envolveram inteiramente. Até os câmeras de tevê estavam cantando. Como o Dinho oportunamente destacou, sobre as canções da Legião Urbana “na verdade, hoje era a noite que não precisava de ninguém aqui em cima cantando, vocês podiam cantar sozinhos”. Simplesmente maravilhoso.
Será voltou pra encerrar a noite de forma apoteótica. A Legião Urbana saciou seu público e, certamente, conquistou quem não os conhecia e os que não entendem (iam) o porquê de tanta admiração por uma banda que acabou há 15 anos.
Bem, eu depois de quase nove horas dirigindo, mais de duas horas só pra sair da cidade de São Paulo, trânsito e tantas obras na cidade do Rio de Janeiro e caminhar cerca de 1,5 km, até quase a grade do palco Mundo, me senti devidamente recompensado. Eu até que tentei cantar todas as músicas, mas não consegui. Não era cansaço, não. Era a mais pura emoção. Minha voz estava embargada e lágrimas se misturaram a meu suor. O que Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, juntamente a Orquestra Sinfônica Brasileira e seus convidados, fizeram, só reafirmam a capacidade destas bandas dos anos 80. Como oportunamente disse Bruno Mazzeo, após a apresentação da Legião Urbana “Eu sou de uma geração que cresceu tendo como ídolos pessoas que tinham o que dizer, que passavam mensagens, que criticavam o sistema e tudo o mais”. Humildemente, eu assino em baixo!
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